Este ano poderia ter sido o meu melhor ano a nível de acontecimentos, não tivesse sido um ou outro acontecimento que me marcaram muito negativamente. Bem mas é melhor focar-me nas coisas positivas, vamos lá começar a revisão deste ano.
E amanhã o ano acabará como sempre acaba, com a São Silvestre da Amadora, a minha primeira prova depois do Ironman, vai ser para desfrutar com os amigos.
Já há algum tempo que não escrevia nada aqui no blog, tenho andado com pouco tempo e apesar de ter até coisas interessantes para deixar aqui registadas, tenho dado pouco carinho aqui ao estaminé. Já foi há 1 mês que fiz a minha nova tatuagem, foi o meu prémio, a minha medalha por ter completo o Ironman, é algo que vai ficar marcado em mim física, e mentalmente para o resto da minha vida. Esta tatuagem é como a daqueles assassinos, que inspira medo e respeito nos seus parceiros, os meus parceiros também saberão quando virem a tatuagem o feito que eu já alcancei.
Nunca tinha ido ao Badoca Park e devo dizer que estava com alguma expectativa para o visitar. Depois de há uns anos atrás ter ido ao Monte Selvagem, tinha a ideia que o Badoca Park seria melhor, por conversas que já tinha tido com outras pessoas e porque o Badoca Park sempre era mais falado. Se calhar por ter as expectativas algo elevadas acabei por ficar um pouco desiludido, e podendo mesmo dizer que preferi o Monte Selvagem.
A parte do passeio pelo parque de tractor ainda foi a melhor parte, deu para veer várias espécies a uma distância muito reduzida, mas a visita ao parque pode quase reduzir-se a isso. O resto do parque não tem lá grande coisa para fazer, a ilha dos macacos faz com que os primatas fiquem tão longe que é quase preciso binóculos para os ver. O espectáculo das aves também não achei nada de especial, poucas aves, e já vi diversas vezes em sítios diferentes melhores apresentações.
Como conclusão acho que o Monte Selvagem vale mais a pena, especialmente se formos com um grupo de amigos para aproveitar os jogos e insufláveis, pois a nível de animais não há grande diferença. Já no final da visita quando estava a passar num corredor estreito de uma loja dei um pontapé numa pessoa, quando me viro para pedir desculpa reparo que era a Diana Chaves, posso então dizer que eu já dei um pontapé na Diana Chaves, não há muitos homens que possam dizer o mesmo.
Esta foi a 2ª vez que fui ver Tarja, e também foi a 2ª vez que fui à Aula Magna, e voltei a ter a mesma sensação da primeira vez, é uma sala espectacular, sonoramente soberba mas aqueles cadeirões confortáveis nada têm a ver com este tipo de concertos. Quanto à primeira banda os The Shiver, que posso dizer? Não tenho grande coisa para dizer, não me aqueceram nem arrefeceram, não gostei nem desgostei da música.
A 2ª banda foram os Sinheresy. Reportório muito mais interessante e como banda nota-se que está mais consolidada. Para mim cometeram o erro de tocarem a melhor música logo a abrir o concerto, o que depois acabou por dar a ideia que fizeram sempre um concerto em decrescente, apesar da última música também ser boa. Uma coisa que achei estranha e nunca tinha visto, foi os vocalistas estarem constantemente a sair de palco, 2-3 vezes durante cada música. Normalmente o vocalista sai ao fim de uma meia dúzia de músicas, não diversas vezes durante a mesma música.
Tal como no concerto dos Kamelot, em que trouxeram os Aeverium como banda de suporte, achei que esta banda sofria do mesmo que os Aeverium, a voz masculina era muito melhor que a voz feminina, e para eu achar isso, que prefiro muito mais vozes femininas, é porque a voz masculina era bastante melhor que a feminina. Mas para concluir, achei uma banda interessante, com algumas músicas que ficam no ouvido.
Era a hora do concerto da Tarja. O concerto começou bem com o No Bitter End e o 500 Letters, mas depois teve ali uma sequência de músicas pouco interessantes até à altura do medley dos Nightwish. Apesar de já não ser tão evidente como o primeiro concerto que vi da Tarja, continuo a achar que o reportório dela ainda é curto, 5 músicas seguidas que normalmente não entrariam num concerto se o reportório fosse melhor indica isso mesmo, e acrescentando a isso o facto de ainda ter de recorrer a músicas da altura em que era a vocalista dos Nightwish. O medley foi o ponto de viragem do concerto, a seguir a este foi tocar tudo o que de melhor tem a Tarja como cantora a solo. A parte mais intimista do concerto veio logo de seguida, quando ela e a banda se aproximaram do público, e em acústico tocaram uma série de músicas. Nesta altura comecei a pensar até que ponto a Tarja se quer afastar daquele perfil metaleiro, e que se calhar se fosse portuguesa seria cantora de fado, foi um registo muito mais calmo e melodioso.
A partir daqui e até ao fim a toada foi mais energética, músicas mais fortes, que levantaram o público e meteram muita gente aos saltos. Não posso dizer que foi a parte que gostei mais do concerto, pois o medley dos Nightwish também me agradou bastante, mas foi uma maneira muito boa e forte de acabar o concerto. Outra coisa que indica que o reportório ainda é pequeno foi a música de encerramento do concerto, que por norma é a música mais forte de um artista ou pelo menos é a música do último album que mais fica no ouvido, neste caso a música de encerramento voltou a ser o Until My Last Breath, tal como tinha sido à 3 anos atrás.
Passou exactamente 1 mês do Ironman de Barcelona, esta é uma boa altura para rebobinar e ver como cheguei a este ponto, qual foi o caminho para o Ironman. Este podia ser um daqueles típicos post "De sedentário a Ironman", contudo não é bem assim, não considero que alguma vez tenha sido sedentário, sempre fui uma pessoa minimamente activa. Bem vou começar pelas minhas raízes, pela minha origem, falando somente do meu percurso nas três modalidades que compõem o Ironman.
Quando tinha 4-5 anos a minha mãe pôs-me na natação e nos poucos meses que lá andei se calhar aproveita-se 1 mês, andava constantemente constipado e faltava imenso, acabei por nem aprender a nadar. Por volta dessa altura já andava de bicicleta lá pelo bairro, com a minha velhinha BMX de amortecedor central, a saltar rampas e a esfolar joelhos. Quando entrei para a preparatória do Monte Estoril, aos 10 anos, fiz a minha primeira corrida, e logo com um 1º lugar. Apesar de ao logo da minha juventude ter conseguido diversos pódios, esta foi a única vez que ganhei uma corrida.
Aos 12 anos voltei à natação, agora devido ao meu problema de asma o médico aconselhou a minha mãe a que eu praticasse natação. Com algum custo lá aprendi a nadar, durante 2 anos estive no tanque dos bombeiros dos Estoris, até que aos 14 anos passei para a piscina de 25 metros da Alapraia, piscina que ainda hoje frequento. A minha primeira memória da minha primeira bicicleta de mudanças remonta aos meus 16 anos, foi uma bicicleta que alguém me ofereceu por já ser velha, era uma bicicleta de montanha toda em ferro. Lembro-me da primeira volta que dei fora do bairro, "aventurei-me" na serra de Sintra com o Tiago Neto e o Alex, em que metade do tempo eles estiveram à minha espera porque eu fazia as subidas quase todas à mão...que vergonha.
Aos 18 anos entro na universidade, e a minha história é igual à da maioria, deixei de fazer qualquer tipo de exercício, excepto a natação por motivos médicos, senão provavelmente tinha-me tornado no sedentário. Quando aos 21 anos voltei a fazer uma corrida, a mini maratona de Portugal, na qual atravessei a ponte Vasco da Gama, e demorei mais de 48 minutos a fazer 8kms e senti-me mesmo mal, é que me apercebi que só a natação não chegava, apesar de já ser um nadador mediano isso não me servia de nada na corrida, e o bom corredor que era na minha juventude agora nem sombra dele existia. No final da universidade, quando já estava a entregar o projecto final, a 10 de Setembro de 2006 participei na primeira edição do Lisboa Bike Tour, neste evento era-nos dada uma bicicleta, apesar de ser um chaço não era tão chaço como a minha antiga bicicleta, então passou a ser a minha bicicleta principal. Com ela acabei por dar imensas voltas pela Serra de Sintra, e por estranho que pareça nem teve assim tantas avarias como seria de esperar, agora não me ajudava nada nas subidas, sempre fui dos piores nos grupos com quem ia andar e a bicicleta ainda ajudava mais a que fosse dos piores.
Entretanto passara-se alguns anos, continuei a treinar natação, uma ou outra corridinha ao final do dia, fazia algum ginásio (pouco), futebol, bicicleta BTT, e outros desportos ocasionalmente (polo aquático, hóquei aquático, etc). E a partir de 2010, já com 28 anos, é que posso dizer que efectivamente começou a minha caminhada para o Ironman, não é que na altura pensasse sequer em fazer um Ironman, estava muito longe disso mas o meu treino mais regrado começou a partir daí.
Dezembro de 2010 - Primeira participação na S. Silvestre da Amadora
Agosto de 2011 - Primeira vez que fiz o Tróia-Sagres, depois de ter comprado uma nova bicicleta e BTT e ter começado a andar regularmente de bicicleta ao fim de semana
Janeiro de 2012 - Primeiro duatlo na companhia dos meus grandes amigos Nuno Silva e Pedro Santos. Nestes primeiros tempos muitas vezes meus companheiros de treino, aliás o Pedro começou também a fazer triatlo comigo.
Abril de 2012 - Primeira prova de BTT, a distância mais curta do maratona BTT Sintra
Junho de 2012 - Uma das coisas mais marcantes que fiz até hoje, o caminho de Santiago de Compostela a partir de Lisboa, de bicicleta e mais uma vez na companhia do meu camarada destas andanças o Pedro
Abril de 2013 - Primeiro triatlo. Distância olímpica, nem tinha equipamento que me foi emprestado pelo Nuno Felício (fato de triatlo e fato isotérmico) e bicicleta emprestada pelo Zé Correia
Agosto de 2013 - Depois de ter comprado uma bicicleta de estrada em 2ª mão subi pela primeira vez à Torre a tentar seguir o Tiago Neto
Setembro de 2013 - Swim challenge aldeia do mato, pela primeira vez a distância de 5kms
Setembro de 2013 - Finalmente baixei dos 45 minutos numa corrida de 10kms
Outubro de 2013 - Um primeiro grande objectivo cumprido, conclui a minha primeira maratona. Nesta altura pensei pela primeira vez, ainda como objectivo inalcançável, fazer um Ironman
Junho de 2014 - Espantosamente baixei pela primeira vez dos 40min aos 10kms
Novembro de 2015 - Comprar a minha bicicleta de estrada a pensar no Ironman e em fazer triatlo mais regularmente. Obrigado ao Nuno Santos pela ajuda na escolha da bicicleta.
Resumindo um pouco, 2010-2011 comecei a correr e a andar frequentemente de bicicleta BTT, 2012 introdução do duatlo, 2013 começar a fazer triatlo, bicicleta de estrada e a primeira maratona, 2014 primeiro half Ironman, 2015-2016 maturação e consistência, e finalmente a acabar 2016 fazer o Ironman. Comecei tarde mas ainda fui a tempo. Quanto ao próximo desafio ainda não sei, depois do Ironman parece que cheguei ao cume da minha montanha, vamos ver como será daqui para a frente.
Foi a primeira vez que fui assistir a um concerto no armazém Lisboa ao Vivo. Se a nível de aspecto se parece por exemplo com o Incrível Almadense, a nível sonoro é um pouco pior, não sei se pela má colocação das colunas, pelo tipo de isolamento, nomeadamente do tecto em chapa, sei que o som não me pareceu muito bom.
Já que comecei a falar pelo som, quando entrei ainda estava pouca gente e acabei por ir lá para a frente para ao pé do palco, fiquei mesmo frente às colunas...estúpido...via bem, mas sem tampões aquilo estava agressivo, ao fim do concerto da primeira banda tive de andar duas filas para trás.
Falando então da primeira banda os Withem, ouvi pela primeira vez 2 dias antes do concerto e até me pareceram bem. No entanto ao vivo não foi assim tão bom, mega simpáticos, boa interacção com o público, mas pior que uma mulher a cantar gutural é ter um homem a guinchar constantemente como se tivesse entalado algo no feixe das calças. Conheci-os mas não fiquei fã e não vou perder muito tempo a seguir a sua carreira. Este era o último concerto desta tour, e sendo o último concerto normalmente acontecem sempre brincadeiras extras. Qunado tocavam a última música entram em palco os bateristas dos Aeverium e dos Kamelot e começam a roubar pratos ao baterista. Como acharam que ele se estava a safa ainda lhe roubaram uns tambores, a actuação dos Withem acabou assim no meio de risadas e brincadeiras.
Avançando o espectáculo de seguida vinham os Aeverium. Também ouvi pela primeira vez esta banda 2 dias antes, e também me pareceu bem, neste caso foi uma confirmação que eram bons e para dizer a verdade ainda gostei mais deles ao vivo que quando ouvi os vídeos no youtube. Têm uma sonoridade muito própria, em alguns momentos devido ao som mais electrónico, digitalizado, com uma voz mais melódica e outra mais agressiva até me podem fazer lembrar Linkin Park ou Amaranthe, mas sem dúvida que se voltar a ouvir músicas deles os reconhecerei.
A voz masculina era especialmente boa, com um aparelho respiratório considerável e uma dinâmica em palco soberba, boa comunicação, boa atitude, a dar tudo o que tinha. A voz feminina era afinada sim, mas lá está, num aparelho respiratório pequenino é difícil aguentar as notas. Para além disso era mais tímida e a interacção com o público ficou sempre a cargo do elemento masculino. A brincadeira do rouba baterias virou-se agora contra os Aeverium, além de roupa interior a voar pelo palco dos elementos dos Withem, o baterista dos Aeverium ficou praticamente sem bateria, só com 2 pratinhos e 2 tamborzinhos. Nisto o vocalista virou-se - "É pá mas a gente ainda quer tocar mais 1 música, desta vez esta não era a última, não querem devolver qualquer coisinha só para desenrascar?". Muito boa actuação, voltem para comer a nossa deliciosa comida como disseram, e já agora para tocarem outra vez.
Faltavam os Kamelot como prato principal. Mal começa o concerto apercebi-me logo que o som estava mal configurado, a bateria super alta a voz super baixa mal se ouvia, acho que durante o concerto ainda tentaram corrigir isso, mas mesmo assim achei que todo o concerto não estava com o som muito bem afinado o que foi desde logo uma pena.
A set list do concerto foi aquela que esperava e que era do meu agrado, gostava de quase todas as músicas. Mas sem dúvida que a que me dizia mais era a velhinha "Center of the Universe", ouvir esta música ao vivo só não foi o máximo por causa das afinações do som, mas mesmo assim é das músicas que mais gosto.
Gostei também que em certas músicas os vocalistas dos Aeverium tenham participado, acrescentou mais poder à parte vocal. Uma óptima opção foi substituírem a voz da Alissa White-Gluz nas músicas onde ela participava no album pela voz da vocalista dos Aeverium, está bem que a voz de uma não tem nada a ver com a voz da outra, mas para mim é preferível a ter uma voz gravada por trás. Tenho ainda de realçar a música "Forever", uma música que em album tem 4 minutos, no concerto foi tocada durante mais de 15 minutos, devido à interacção com o público que foi mais uma vez mega para os artistas, aquele refrão foi cantado vezes sem conta, primeiro a pedido e depois de uma forma natural por toda a gente dentro do armazém. Com este público todos os artistas que passam por cá só podem querer voltar, às vezes podemos não ser muitos, mas sem dúvida sabemos acarinhar e reconhecer o bom trabalho das bandas.
O dia começou cedo, por volta das 5h o Mário não conseguia dormir mais e começou-se a preparar para a prova, como partilhávamos o quarto acabei por acordar também quando era suposto só acordar às 6h. Lá comecei a equipar-me calmamente e a fazer os meus noodles para o pequeno almoço. Detesto comer muito quando acabo de acordar, tive de me obrigar a comer um pouco mais porque precisava de todas as energias disponíveis para a prova. Os meus objectivos eram: 1) acabar o Ironman; 2) divertir-me; 3) acabar abaixo das 13h de prova.
Acabámos por chegar por volta das 7h ao parque de transições, rapidamente verifiquei que estava tudo bem com a bicicleta e só necessitei de colocar o cantil de isotónico. Por sorte a minha bicicleta estava na ponta do corredor o que facilitava a saída e entrada no parque de transições. Fui até à tenda da transição e coloquei alguma comida nos sacos, nomeadamente uma fatia de pizza e umas bananas. Faltava ainda algum tempo, eu e o Nelson fomos aquecer um bocado já na praia com uma natação muito ligeira. Para mim foi mais para descontrair e experimentar aquela água na qual ainda não tinha nadado.
Por volta das 8h entrámos nas caixas de partida, decidi entrar na caixa de 1h10m (tempo que levaria a concluir o segmento de natação), fiquei sozinho pois nenhum dos meus colegas escolheu aquela caixa. A partida dos profissionais seria dada às 8h10m e nós começaríamos a sair às 8h20m por ordem das caixas mais rápidas até as mais lentas. As partidas acabaram por atrasar 5 minutos devido a um problema eléctrico, e como eu já calculava esta seria a altura onde eu começaria a ficar nervoso, é sempre assim, fico nervoso só a poucos minutos do começo quando alinhamos para a partida, ainda para mais havendo atrasos. No meio daquela música épica olho para o céu, lembro-me da minha avó, do meu filho, dos sacrifícios que fiz desde o início do ano, das privações a que me sujeitei, das inúmeras horas de treino ao frio, à chuva, ao vento e acabo por começar a chorar. As lágrimas eram incontroláveis, provavelmente foi a forma de aliviar o nervosismo que estava a sentir. Nisto outro triatleta olha para mim e levanta o pulgar, eu respondo com um sorriso e levantado também o pulgar.
É dado o tiro de partida para os profissionais e o nervosismo é substituído por curiosidade levanto o pescoço tipo girafa para conseguir ver a saída para a água. Começo a analisar a natação para ver se notava alguma corrente, e apesar de não haver corrente a bóia estava ligeiramente descaída para a esquerda por isso queria sair o mais à esquerda possível. Rapidamente abre a minha caixa para sairmos e vou colocar-me o mais à esquerda possível. Pela primeira vez, nesta prova, foi usado o sistema de "Rolling start", ou seja, de 4 em 4 segundos saíam 6 triatletas, como contava era o tempo de chip que só era iniciado quando passávamos o portico da partida ninguém ficaria prejudicado. Isto foi óptimo e gostava que fosse replicado em outras provas, diminui imenso a confusão e cotoveladas dentro de água, ainda por cima se formos a nadar com triatletas com tempo idêntico de natação só temos todos a ganhar.
O primeiro quilómetro foi feito em 17 minutos, calculei logo que haveria corrente a favor nesta fase, não achei que estivesse assim a esforçar-me tanto de modo a que o tempo fosse assim tão bom. Aos 2 quilómetros 35 minutos, numa natação muito tranquila só perturbada por algumas alforrecas das quais me ia desfiando. A partir do momento da viragem, em que começámos a andar em sentido contrário senti que o ritmo estava a diminuir, havia mesmo uma ligeira corrente que diminuía o ritmo. O que é engraçado é que todos os meus colegas de equipa acharam o contrário, que a segunda parte tinha sido mais rápida, eu pelos meus números sei que fui mais rápido na primeira metade, e tenho quase a certeza que isso se deveu à corrente. Saí bastante soltinho da água com 1h12m05s, quase 2 minutos melhor que no meu último teste no swim challenge de Cascais.
Fiz uma transição com calma, meti vaselina nos pés, garanti que as meias estavam sem rugas, comida nos bolsos e siga para o segmento que mais temia. O segmento de ciclismo sempre foi o meu segmento mais fraco, apesar do muito treino dedicado. Mas acima de tudo temia alguma avaria ou alguma queda que deitassem por terra a minha prova e todo o esforço na sua preparação. O tempo estava espectacular, totalmente encoberto, numa temperatura ideal para a pratica de desporto. Depois do reconhecimento que tinha feito no dia anterior com o Mário achei que conseguia fazer uma média de 30km/h o que daria um tempo final neste segmento de 6 horas.
Nos primeiros quilómetros antes da subida ia rolando a 35-40km/h, incrível e sentia-me super bem, comecei a suspeitar que apesar de não se ver nas árvores e arbustos, provavelmente estaria com um ligeiro vento pelas costas. Mas o que mais me surpreendeu foram as "locomotivas" que passavam por mim, eu aquela velocidade e eles passavam por mim a uma velocidade verdadeiramente impressionante. Quando cheguei à subida a minha bicicleta fez a diferença para as bicicletas de contra relógio, se no plano perdia imenso tempo ali fui sempre a ultrapassar outros triatletas com a minha bicicleta muito mais leve.
Após o retorno percebi logo que realmente estava vento, em algumas zonas planas passei de 34km/h num sentido para 26km/h no outro sentido, estes 40km de retorno para acabar a primeira volta não foram fáceis. No final da primeira volta parei a primeira vez para aliviar a bexiga, o engraçado foi quando sai da cabine e agarrei na bicicleta, estava logo um voluntário pronto para me empurrar para eu retomar a prova o mais rapidamente possível. No final da primeira volta tinha demorado 2h44m, tempo espectacular, agora restava saber se o meu baixar de velocidade no retorno se devia só ao vento. Depois do retorno a velocidade voltou a subir, não para os níveis iniciais, mas ia claramente acima de 30km/h, sim estava a ficar desgastado mas não tanto assim.
Por volta dos 105km comecei a sentir algum desconforto no rabo e virilhas, não treinei muito a posição de cabra na bicicleta em percursos grandes, e esta posição traz outro tipo de desafios. Comecei a aproveitar qualquer subida para me levantar e aliviar o rabo de estar sempre sentado no selim. Quando comecei a subida nesta 2ª volta percebi que já não estava a conseguir impor um grande ritmo, não fui passado por muitos triatletas mas também não passei por muitos. Até ao retorno até fui mais ou menos confortável, agora a seguir ao retorno, com vento de frente percebi que esta seria a altura de sofrer, este foi o meu pior momento no Ironman. No retorno fartei-me de ser ultrapassado por mini pelotões, sim haviam bastantes árbitros, sim vi mostrar vários cartões azuis, contudo acho que o crime compensou para a maioria, não podiam andar na roda uns dos outros, mas quase todos o faziam, eu quis ser honesto e acabar o Ironman sem batota e com isso perdi alguns minutos e despendi algum esforço extra.
Acabei o ciclismo com 5h44m, tinha feito uma média de 30km/h na segunda metade do percurso, apesar da quebra não piorei assim tanto, e acabei o percurso de ciclismo abaixo das minhas melhores expectativas. Ao entrar na tenda de transição não vi o meu saco no sítio onde deveria estar. Ainda bem que dei um laço na corda do saco, assim consegui perceber que o meu saco estava deslocado uns 5 ganchos para o lado onde deveria estar. Massajei os joelhos com Voltaren, o esquerdo começou a doer-me ligueiamente no final da bicicleta e o direito foi de prevenção, pois devido aos treinos nos últimos dias antes do Ironman andava a doer-me e foi a minha maior preocupação nos dias que antecederam. Comecei a correr, e nessa altura percebi realmente que aquele era o meu dia, os tempos estavam a sair melhor do que podia imaginar, sentia-me bem e agora muito dificilmente não acabaria o Ironman, nem que fosse a coxear até à meta.
Os primeiros quilómetros correram super bem, ao ponto de pensar que talvez conseguisse bater o meu melhor tempo da maratona que é 3h50m. Contudo a minha capacidade física foi baixando, apesar de não sentir dores nem um desconforto assim tão grande, o meu ritmo foi descendo progressivamente. A meia maratona ainda foi feita baixo das 2h, nessa altura soube que iria conseguir superar tanto as 13h de prova como quase de certeza que baixaria da barreira das 12h. Por volta dos 24km ainda tive de fazer outra paragem rápida para ir à casa de banho, queria ter poupado esta paragem mas não ia aguentar até ao final. A 8km do final começaram a doer-me os joelhos, já faltava pouco, já começava a cheirar a meta, era sofrer só mais um bocadinho.
Quando entrei naquele mágico tapete vermelho da recta da meta abrandei, quis desfrutar daquele momento, ajeitei o fato como os ciclistas profissionais fazem antes de cortar a meta, tirei a chucha do meu filho do bolso que me acompanhou durante toda a corrida, ergui os braços e comecei a saltar virado para as bancadas. Estava tão inebriado que nem ouvi o comentador dizer a tradicional frase - "Tiago you are an Ironman" - dei um último salto, gritei e ri de felicidade, tinha acabado de atingir o maior desafio desportivo a que me tinha proposto.
Apesar do cansaço queria desfrutar até ao último momento daquela festa. Fui busca a bicicleta ao parque de transições, fui até ao hotel para um banho rápido e voltei para a bancada da recta da meta para a hero hour (hora do herói). A hero hour é a última hora de prova, a última hora em que os triatletas podem cortar a meta dentro do tempo limite. Tenho o maior respeito por estes triatletas, mais do que por muitos dos que acabaram no topo da tabela, o sofrimento, o estado debilitado que muitos chegavam, a força de vontade para terminarem a prova, é algo pelo qual eu faço uma vénia.
No final devo dizer que o mais difícil de fazer um Ironman é mesmo a preparação, são longos meses de treino e de muitos sacrifícios. Pessoalmente, tive momentos complicados para conseguir cumprir um plano mínimo de treinos, em Março quase não treinei devido a uma queda de bicicleta, em Junho nasceu o meu filho, em Agosto conciliar as férias de família com o treino e no final do mês a morte da minha avó. Se em casa as coisas eram complicadas, sempre a pedirem para treinar menos tempo, para não fazer tantas provas, para passar mais tempo em casa, para terem mais atenção da minha parte, por outro lado os meus colegas de equipa e de treinos sempre me apoiaram, sempre me fizeram acreditar que era possível. O caminho foi longo e difícil mas agora posso dizer com orgulho - "I'M AN IRONMAN".
O tão desejado e ao mesmo tempo receado desafio estava aí à porta, era hora de rumar a Barcelona para o meu primeiro Ironman. Sentia-me bastante tranquilo, nada ansioso, sabia que tinha feito tudo o que estava ao meu alcance para estar o melhor preparado possível, queria que chegasse o dia da prova para desfrutar dela, e acreditava que se não tivesse nenhum azar, melhor ou pior conseguiria cortar a meta.
A viagem acho que foi o primeiro desafio, quase 1300 kms, quando o máximo que tinha feito num dia nunca tinha ultrapassado os 500 kms. Saímos de Cascais por volta das 5h30m de 5ª feira, graças à simpatia da câmara de Cascais que nos emprestou uma carrinha conseguimos ir todos juntos, todos nós virgens no Ironman, eu mais os meus colegas de equipa Mário Santos, Ricardo Costa, Nelson Moreira e Gonçalo Sousa. Chegámos a Calella (localidade perto de Barcelona onde decorre o Ironman) já perto das 22h30m locais, todos amassados de uma viagem super desgastante, foi só tirar tudo da carrinha, comer algo rápido e ir descansar. Durante estas longas horas com se pode calcular todas as conversas giraram à volta da prova, expectativas, receios, objectivos, etc, e claramente eu e o Nelson éramos os mais calmos.
Na 6ª feira começámos logo o dia por ir fazer o registo na prova, recolher as nossas coisas e despachar a parte mais burocrática. A magnitude da prova é uma coisa absolutamente impressionante, nada perto do que já tenha vivenciado, parecia que estava num campeonato do mundo ou nos jogos olímpicos, estamos a falar de quase 3000 triatletas, famílias inteiras a vir ver a prova, tendas por todo o lado, equipamento e mais equipamento, atletas a correr e a pedalar por todo o lado, via-se e respirava-se triatlo em cada canto daquela cidade. Esta grandiosidade só era comparável aos preços absolutamente absurdos do merchandising da prova, devem pensar que todos os países se regem pelos padrões da Suiça, mas o que é mais incrível é que aquilo vendia como se fossem garrafas de água no meio do deserto, por isso percebo que os preços sejam aqueles.
A seguir a isso pegámos na carrinha e fomos percorrer o percurso de ciclismo, queríamos ir ver a única subida do percurso que iria ser feita duas vezes. A subida em si não me assustou, tinha cerca de 7kms mas com inclinações a rondar os 3%-4% em que as rampas mais agressivas não ultrapassariam os 8%, bom para as minhas características. O início do percurso é que não me agradou muito, pensava que o percurso era todo plano tirando aquela subida, mas a saída de Calella era algo acidentada, a estrada ondulava com diversas pequenas subidas.
Ao final da tarde fomos correr um pouco para soltar as pernas depois de tantas horas sentados na carrinha no dia anterior, escolhemos mais ou menos a hora em que calculámos que no dia da prova estaríamos a correr. O percurso era muito bom, sempre plano e mais importante que isso, bastante abrigado do sol em grande parte da sua extensão. Entretanto também chegou o Felício que foi ajudar na organização do evento, para aprender um pouco sobre a dinâmica do mesmo, visto que vai ser uma das pessoas responsáveis pelo Ironman 70.3 de Cascais no ano que vem. O coitado estava cheio de vontade de fazer a prova que até dava pena, notava-se que ele trocaria num piscar de olhos a posição dele com a nossa.
Para além do Felício também chegou o David Sanglas, o nosso veterano do Ironman que vinha participar no seu 6º Ironman. Nessa noite tivemos a "Pasta Party", um jantar oferecido pela organização para todos os triatletas e como o nome indica, à base de massa, venham os hidratos que bem seriam precisos para domingo. Durante o jantar massacramos o David com perguntas, especialmente no que tocava às transições, pois nesta prova as transições não funcionam como em provas de triatlo normal, e a nossa inexperiência traziam-nos algumas questões quanto ao detalhe como as transições se procederiam. Basicamente em vez de termos um cesto com o equipamento ao lado da bicicleta, nesta prova temos uma tenda com um cabideiro enorme, em que cada triatleta tem uma posição na qual coloca dois sacos, um com as coisas para a transição da natação para a bicicleta, e outro para a transição da bicicleta para a corrida.
No sábado de manhã decidimos dividir-nos, eu e o Mário queríamos ir experimentar uma parte do percurso de ciclismo a pedalar, e os restantes queriam ir fazer uma natação rápida para experimentar a água, seguido de um ciclismo rápido. Para mim quem está habituado a nadar nas águas portuguesas nada em quase todas as águas, e então no Mediterrâneo esperava um mar calmíssimo, com água muito mais quente e muito mais salgada, por isso abdiquei de experimentar o segmento de natação, decidi que experimentaria no aquecimento no dia da prova. Enquanto estávamos a experimentar o percurso de ciclismo fiquei um pouco mais tranquilo, aquele ondulado inicial que parecia chato quando fizemos de carro, a pedalar, e aproveitando algum balanço que se conseguia parecia relativamente tranquilo. A única preocupação foi o vento frontal que se apanhava no retorno, mas segundo as previsões o vento ia ser quase inexistente no dia seguinte e sendo assim, tanto eu como o Mário achámos que era possível fazer uma média de 30km/h no ciclismo, algo totalmente impensável para mim há uns meses atrás, quando pensei em fazer o Ironman o meu objectivo era fazer o segmento de ciclismo a uma média de 27km/h.
A seguir a um banho rápido fomos ouvir o briefing da prova, mais uma vez impressionante a quantidade de triatletas, a quantidade de pessoas que ia fazer pela primeira vez o Ironman, a quantidade de nações representadas, a diversidade de pessoas, o show à volta do briefing, o detalhe, absolutamente impressionante. Da parte da tarde fomos colocar as bicicletas no parque de transição, até dava vergonha a minha bicicleta ao pé daqueles maquinões todos, o que me dava alento era pensar que mais vergonhoso seria quando eu na minha "amostra de bicicleta" passasse por alguns daqueles maquinões durante a prova. Além da bicicleta também fomos colocar os sacos no cabideiro para as transições. Nessa altura é que me apercebi da verdadeira confusão, era ainda pior do que pensava, os sacos ficam totalmente atafulhados uns com os outros, todos iguais, só identificáveis pelo nosso número, a distância entre os cabides não era superior a 2cm, se alguém mexesse no nosso saco e o trocasse de sítio nunca mais o encontrávamos. Apesar de inexperiente não sou parvo nenhum, então fiz um pequeno laço nas cordas dos meus sacos, coisa que ninguém tinha feito, pelo menos ali nas minhas redondezas, desta forma conseguia identificar rapidamente os meus sacos, nem que estivesse a 3 metros de distância deles.
Era agora hora de descansar, dormir, o dia seguinte era o grande dia...
Este seria o meu derradeiro teste antes do Ironman, o swim challenge de Cascais. Fundamentalmente queria saber em condições idênticas às do Ironman, distânia de 3,8kms feita com fato isotérmica qual seria o meu tempo, para saber em que bloco de partida irei entrar no Ironman. Após o swim challenge da Aldeia do Mato que me correu super mal, queria mesmo ver como estava a minha forma dentro de água, eu acreditava que acabaria abaixo de 1h15m (para entrar no bloco sub 1h15m no Ironman), mas dado ao meu fraco desempenho na Aldeia do Mato tinha algumas dúvidas.
O percurso consistia em duas voltas em que a transição entre as voltas era feita num pequeno percurso em terra. A primeira volta correu-me bastante bem, consegui quase sempre ir num grupo o que me possibilitava preocupar menos com a navegação e mais com a técnica, ao mesmo tempo que me protegia atrás de outros nadadores. Na transição ia com cerca de 36 minutos, o que daria um tempo final abaixo de 1h15m.
Na transição desatei a correr e saí a frente do grupo onde ia. Fiquei sozinho e cometi um erro de navegação que me custou uns segundos, em vez de apontar à 3ª bóia, apontei à 4ª, estavam ambas à minha frente mas a 4ª mais à esquerda. Estranhei não ver ninguém, até que me apercebi que todos os nadadores estavam do meu lado direito a uns 20 metros de mim. Perdi algum tempo a voltar a trajectória e quando voltei ali estava eu outra vez no mesmo grupo que tinha deixado para trás, esforço desperdiçado. Até ao fim mantive-me dentro do grupo, o ritmo não era mau, e sabia que no final era muito provavelmente o mais rápido do grupo.
Assim foi, inclusivamente ainda apanhámos alguns nadadores sozinhos, e se à saída da água ainda tinha outro nadador comigo apesar da minha aceleração final, na corrida até à meta não deixei mais ninguém se aproximar. O resultado final foi 1h13m45s (o GPS aparvalhou no final e não marcou o percurso todo), foi bom e dentro do que queria fazer, venha daí o Ironman.
Depois de no dia anterior a prova de 5km a nadar me ter corrido muito mal, esperava nesta prova de bicicleta conseguir ter boas sensações porque é onde anda a incidir o meu treino. E a coisa não podia começar pior, mal acordei apercebi-me que me tinha esquecido do capacete, essencial para poder participar na prova. Ligo para a organização mas não me conseguiam arranjar capacete, disseram-me para tentar comprar na feira da prova. Pediram-me 150€ por um capacete, porque era o topo de gama, que se lixe, não ia dar assim 150€ por um capacete à toa, sem sequer ter analisado as minhas opções. Pedi a diversos grupos/clubes se tinham um capacete extra que me pudessem emprestar e nada. As minhas únicas opções seriam, ou não treinar e ficar horas à espera dos meus colegas, ou fazer o percurso à mesma sabendo que estava desclassificado à partida. A opção foi fazer o treino à mesma, era esse o meu objectivo, não estava ali para ganhar ou fazer uma classificação de TOP na prova, por isso lá fui eu sem capacete, arrancando mesmo no fim do pelotão.
Os primeiros quilómetros foram fáceis sem grandes subidas, ainda com muita energia, lá fui andando na conversa com o Manso num ambiente descontraído, só interrompido por alguém a perguntar onde tinha o meu capacete. No início da primeira subida passei pelo meu colega Gonçalo Sousa, que também irá comigo ao Ironman, continuei com o Manso subida acima a um ritmo constante mas confortável.
No final da subida, no primeiro posto de abastecimento, um elemento da organização pediu-me para remover o dorsal da bicicleta, visto que oficialmente não podia estar na prova por estar sem capacete. Para mim não tinha qualquer importância, só queria que me continuassem a dar abastecimento ao longo da prova, pois não tinha comida e líquidos suficientes para os 166kms. Seguimos novamente juntos, até à descida vertiginosa da barragem, foi um ondulado constante nunca havendo terreno plano. Na descida para a barragem o Manso ficou um pouco para trás e durante a subida não era possível esperar por ele. A subida foi a pior da prova, até chegar aos tambores (senhores a tocar tambores), duríssima, com um pequeno troço menos inclinado pelo meio só para respirar, mas tirando isso a minha desmultiplicação tornou esta subida uma tortura para mim. Depois dos tambores já sabia que a subida continuava porque os meus colegas de clube me tinham dito, por isso já estava psicologicamente preparado, e apesar de difícil (zona vermelha da imagem seguinte), já não sentia a necessidade de ter uma desmultiplicação mais leve.
Entretanto deixei de ver o Manso, aproveitei para parar e aliviar a bexiga. Como o Manso não aparecia e só faltavam 10kms para o próximo ponto de abastecimento decidi seguir e esperar por ele enquanto estivesse a comer. À saída do posto de abastecimento, aos 88kms na Pampilhosa da Serra, apanhamos um raio de um empedrado mais íngreme, que não contava mesmo nada com aquilo, o Manso descolou de mim e toda a gente à minha volta a desmontar e a subir a pé. Consegui a muito custo não desmontar e ao olhar para trás deixei de ver o Manso. Nessa altura como já estávamos a mais de metade da prova, decidi seguir ao meu ritmo. Fui passando pequenos grupos e ciclistas sozinhos. Por volta dos 100-110kms foi quando me senti pior, estive sozinho muito tempo, não via ninguém para trás e para a frente, não havia pontos de referência. Ao chegar ao posto de abastecimento na Picha (sim é o nome do local) 2 elementos da organização dizem-me - "Há água fresquinha a 200 metros." - esqueceram-se foi de dizer que era num empedrado digno de BTT e a subir bastante, mais uma dorzinha para chegar ao oásis.
A seguir a abastecer continuei sozinho a ultrapassar alguns ciclistas, já com muito calor, mas já me encontrava numa fase que me tinha voltado a sentir melhor fisicamente. Chego ao último ponto de abastecimento, antes da última subida e parei um pouco para comer devidamente para atacar a subida. Esta última subida apesar de longa tinha inclinações mais suaves, idêntica à primeira subida da prova, e é um tipo de subida à qual me adapto muito melhor. Nesta subida cheguei a andar diversas vezes em pedaleira grande, senti-me muito bem mesmo, e ao longo dos 13kms ultrapassei certamente mais de 20 ciclistas. Acabei a prova no topo com 6h35m19s, o que me daria o 243º lugar entre 400 ciclistas, nada mau para mim, que há uns anos atrás andava a fazer provas de poucas dezenas de quilómetros a tentar não ficar nos últimos 10% dos participantes.
Faltava regressar ao ponto inicial da prova, 22kms sempre a descer, acho que nunca tinha descido tantos quilómetros seguidos, ainda deu pelo caminho para ultrapassar um carro. Devo dizer que a meio da descida já estava farto, doía-me os braços, os pulsos e manter a concentração durante tanto tempo é desgastante. Fiz os 166kms em 7h06m42s, dado à imensa dificuldade do percurso e ao facto de me sentir bem durante quase toda a prova e no final, creio que estou preparado para o Ironman, onde o objectivo é fazer os 180kms em menos de 7 horas. Está quase...
Após uma série de anos sem ir ao Swim Challenge da Aldeia do Mato, este ano como preparação para o Ironman esta era uma prova que era interessante fazer. Já há bastante tempo que não nadava 5kms sem fato isotérmico, só com fato de banho, mas como já não era a primeira vez a fazer a distância não me preocupei grandemente.
Após os primeiros 500 metros percebi logo que não estava com um bom ritmo, tenho treinado pouco a natação, para poder treinar mais ciclismo, e não estava a conseguir seguir com nenhum grupo e rapidamente me vi sozinho sem nenhuma referência. Ao final da primeira volta nem estava assim tão mal para meu espanto, estava com cerca de 48 minutos, o que me dava um tempo final muito parecido com o tempo que tinha feito esta prova pela última vez.
Mas a 2ª volta foi dolorosa, sempre a nadar sozinho e pior que isso, comecei a sentir dores no cotovelo esquerdo, com o tendão a ressaltar no osso e a doer-me bastante. A única solução que tive foi encurtar a braçada de modo a não forçar tanto o cotovelo. A partir do último retorno então fui-me mesmo a arrastar, receei mesmo já ser o último, visto ser uma prova com pouca gente mas de bastante qualidade na sua maioria. Não acabei em último mas perto disso, só acabaram 5 nadadores atrás de mim, mas fui o 2º do meu escalão (a história do copo meio cheio e meio vazio), com o tempo final de 1h46m06s. Foi um péssimo tempo, mas não me posso espantar pelo meu treino deficiente na natação, contudo sempre disse se perder 10 minutos na natação e ganhar 1 hora na bicicleta no Ironman para mim foi uma boa opção. Próximo fim de semana tenho a última prova antes do Ironman, 3.8km com fato isotérmico, e aí já terei uma ideia bastante próxima do que irei fazer no Ironman.
Finalmente 8 anos depois, os Nightwish voltaram a Portugal. Em 2008 foi um óptimo concerto, com uma setlist com base no que para mim foram os 2 melhores álbuns dos Nightwist, o Once e especialmente o Dark Passion, por isso ia para este concerto com a sensação que não podia ser melhor que há 8 anos atrás.
Começando pela banda de suporte...quem eram eles mesmo?! Percebi que eram portugueses e que provavelmente tocavam juntos à 6-7 anos. Péssima apresentação, venderam-se muito mal, não percebi o nome da banda, o nome dos elementos, etc, além de não aparecerem referidos em nenhum local no site dos Nightwish, nos bilhetes ou na divulgação do concerto. Sei que vou ser contestado pela minha opinião, mas preferia ter uma banda de suporte que não fosse portuguesa, porque sendo portuguesa tenho mais oportunidades de ver se quiser, e trazer uma banda de suporte que realmente acrescentasse algo. Por exemplo em Sabaton trouxeram como guests Korpiklaani e Týr, estes últimos não conhecia e fiquei fã; Epica trouxe DragonForce da 2ª vez que os vi e da 1ª vez trouxeram Xandria e Stream of Passion.
Indo para o concerto de Nightwish, e para acabar com os pontos negativos, que palco tão pobrinho, demasiado simples, cenário básico, sem fumos, sem pirotecnia (em concertos em recintos fechados é pouco usual), achei um pouco desleixado para uma banda do nível dos Nightwish. Olhando para a setlist as 2 músicas que mais me chamavam a atenção era a "Storytime" e a "Last ride of the day". Essas 2 músicas realmente foram as que gostei mais, mas fui agradavelmente surpreendido por algumas das músicas clássicas dos primeiros álbuns que não contava que fossem tocadas.
A nova vocalista a Floor Jansen, que já conhecia de ReVamp e After Forever, parece encaixar bem na banda, gostei da actitude, é mais dinâmica e metaleira que a Anette, quanto a voz não sei se é uma melhoria, mas é só uma opinião polémica. Vamos lá ver por quanto tempo será a vocalista dos Nightwish ou se estes vão começar a ficar conhecidos como um cemitério de vocalistas. E por fim o público, fenomenal, como podem estar 8 anos sem vir a Portugal com um público destes, um ambiente absolutamente fantástico num Coliseu de Lisboa a rebentar pelas costuras. Devo dizer que estou curioso pelo próximo álbum dos Nightwish, é uma banda que mudou muito nos 2 últimos álbuns e gostava de saber qual é a trajectória para o futuro deles, julgava que o Imaginaerum tinha sido um álbum à parte por ser para um filme mas o Endless Forms Most Beautiful foi novamente um álbum estranho, pessoalmente gostava que voltassem mais ao registo antigo, mas próximo do Dark Passion.
Parece que passou a correr, já só falta um mês para o Ironman. Tem sido duro manter um plano de treino consistente, com um recém nascido, com o trabalho, com restrições familiares, mas mesmo assim sinto que estou preparado, que vou conseguir superar este grande desafio. Mentalmente é muito desgastante todos os dias pensar que tenho de treinar, ou que esta semana ainda não treinei o número de horas suficiente, ou que tenho de ter cuidado para não me lesionar, que qualquer dorzinha fora do comum, qualquer desconforto dispara um alerta a dizer que tenho de estar no melhor das minhas capacidades físicas no dia 2 de Outubro. Falta so mais 1 mês de sacrifícios para depois conseguir desfrutar da prova, ainda não tenho a meta à vista mas a linha de partida está mesmo ao virar da esquina.
A coisa mais importante que te posso dizer é obrigado, obrigado por teres sido uma 2ª mãe, obrigado por teres sido a melhor avó do mundo, obrigado por tudo o que me ensinaste, obrigado por todo o carinho que sempre me deste. Apesar de nunca te ter dito isto sei que o sabes, sei que sabes o quão agradecido te estou e sei que sabes o quão importante eras para mim.
De um modo invejoso queria que tivesses estado mais anos connosco, queria que tivesses conhecido o teu bisneto que só conheceste em fotografias, e isso é uma mágoa que sempre terei, a de não ter conseguido que conhecesses o teu bisneto pessoalmente. Mas quem mais perde é ele, que nunca se recordará de ti, que não teve a hipótese de te conhecer, que não te teve a ti a ensinar-lhe o que era ser uma boa pessoa, o que era ser uma pessoa que vive para tornar os outros felizes, sempre com um sorriso, sempre com vontade de fazer melhor para que os outros se sintam melhor.
Bem sei que desde que a tia faleceu perdeste a vontade de viver, sei que foi algo que nunca conseguiste ultrapassar, mas o teu sorriso manteve-se, depois veio o teu 1º bisneto e apesar da tua saúde já começar a ficar degradada e o alzheimer fazer-te perder muitas vezes noção da realidade adquiriste uma nova felicidade, a maneira como sorrias era de verdadeira felicidade. Maldito alzheimer, foi-te levando pouco a pouco, a minha avó foi desaparecendo, e nos últimos tempos eras só por breves instantes a minha avó, a avó que me lembrava de quando passava as férias contigo. As férias contigo sempre as irei recordar como dos melhores momentos da minha vida, ficaram para sempre gravadas na minha memória, aquela casinha em Sta. Iría terá sempre um lugar muito especial nas minhas memórias pois foi lá que passávamos grande parte do nosso tempo, e tu sempre com uma paciência gigante para um neto irrequieto, que saltava pelas janelas, que corria de um lado para o outro.
Estejas onde estiveres espero que estejas feliz, e que sejas recompensada por todo o bem que nos fizeste. Muito obrigado por tudo querida avó.
Este foi o último teste numa prova de triatlo antes do Ironman, distância olímpica, nem é para ir a fundo nem é para gerir esforço, é preciso não perder intensidade e ao mesmo tempo não gastar demais para não morrer no final.
Além de ser uma preparação para o Ironman também ia tentar fazer meu melhor tempo na distância olímpica, bem sei que estive demasiado tempo a treinar pouco devido a ter sido pai há 1 mês, mas não ia deixar de tentar porque o treino antes dessa altura estava bom e os resultados estavam a aparecer. Pela primeira vez ia fazer o segmento de natação sem fato isotérmico, a água estava a 23ºC (não me parecia mesmo nada) por isso fato não era permitido. Para mim nadar sem fato é terrível, sou friorento e custa-me imenso aguentar o frio da água.
Antes de começar a prova fui nadar um bocado e percebi logo a forte corrente que estava, além de não ter fato ia também ser difícil por causa da corrente. Consegui afastar-me da confusão e traçar uma trajectória, que tendo em conta a corrente, me levou direito à primeira bóia. A segunda parte do segmento foi o mais duro, sempre a nadar contra a corrente avançava-se muito devagar, tentei sempre me proteger atrás de outros nadadores de modo a desgastar-me o mínimo possível. No fim acabei por fazer quase 1900m ao contrário dos 1500m que deveria ter o segmento. Aliado à distância maior e a não ter utilizado fato isotérmico, acabei por fazer cerca de 36 minutos neste segmento onde no mínimo deveria ter feito menos 10 minutos em situações normais, isto desde logo deitava por terra as minhas aspirações de fazer um tempo final inferior a 2h30m.
A transição julgava que ia ser rápida porque não tinha fato para despir, mas não correu bem, tive dificuldades em calçar as meias e perdi alguns segundos a mais do que gostava. Saí para o segmento de ciclismo e logo procurei formar um grupo para ser mais fácil fazer este segmento. Infelizmente o grupo era somente um trio o que fez com que me tivesse de desgastar durante muito tempo. Durante a primeira volta fomos apanhados pelo grupo das primeiras mulheres que tinham saído 15 minutos antes. Muito elas refilam com tudo e com todos, gritam, berram, resmungam, tanta testosterona que ali estava acumulada. Nisto vem um árbitro mostrar-nos, aos 3 homens um cartão azul de aviso, em que ou íamos embora ou tínhamos de ficar para trás que não podíamos rodar com elas. A nossa reacção pode-se dizer que não foi nada amistosa, dissemos que ele era um trabalhador circense, que fosse para uns determinados sítios, alguns comentários sobre a mãe dele, e ainda falámos da extraordinária capacidade que ele tinha de avaliação as situações. Ora se elas tinham vindo detrás e depois tinham ficado ao pé de nós o problema não era nosso, se elas vinham mais rápido é que nos tinham de deixar para trás, não éramos nós que nos tínhamos de ir embora ou diminuir o ritmo a que íamos.
Esta palhaçada durou 2 voltas em que nós acelerávamos para ficar uns 10 metros à frente delas, depois elas passavam novamente e ficavam ao pé de nós. Nesta altura acho que nós os três gastávamos mais energia a refilar com o árbitro que a pedalar, pois nós estávamos ali só para fazer o melhor e elas é que estavam ali a lutar para ganhar a prova delas, por isso para nós era irrelevante ganhar alguns segundos ou mesmo minutos por estarmos a circular num grupo maior. Passadas 2 voltas de esticões constantes não consegui seguir com os outros 2, e acabei por ficar ali naquele grupo, que não era grupo, pois eu não podia estar junto das raparigas. Foi uma volta sempre com o peito ao vento, dum lado da faixa ia eu do outro lado da faixa iam as raparigas a revezarem-se a passar pela frente. Quando faltava uma volta e meia para o final chegaram 3 homens aquele grupo, o árbitro de imediato começou a embirrar com os 3, nessa altura um deles acelera para deixar o grupo e desta vez consegui ir na roda. Formámos um pequeno grupo de 4 elementos que não voltou a ser apanhado pelas raparigas, mas que também não íamos assim tão rápido. No final acabei os 40kms com uma média de 34km/h não foi brilhante mas também não foi mau de todo tendo em conta que fui muito tempo sozinho ou em grupos pequenos, não foi bom para o resultado da prova mas foi um bom treino para o Ironman.
Não consegui tirar os pés a tempo antes de entrar no parque de transição, o empedrado e o cansaço dificultaram-me a tarefa e acabei por correr com os sapatos calçados mas já desapertados no parque de transição. Contudo a transição até foi boa. No último retorno da bicicleta contei o tempo, e ia mais ou menos 6m30s atrás do João Cruz e do João Santos da minha equipa, o meu objectivo na corrida era agora conseguir chegar ao pé deles. Tendo em consideração que passava pouco das 14h, num dia de Verão onde estava um calor insuportável, (quem se terá lembrado que era boa ideia uma prova a estas horas) os primeiros quilómetros feitos a um ritmo de 4:15-4:25/km não estava mesmo nada mal.
Claramente estava a aproximar-me dos meus colegas de equipa até que por volta os 6,5kms os consegui apanhar. Nessa altura já estava bastante cansado, apesar de ter seguido no meu ritmo notava-se que já não estava assim tão mais rápido que eles. A dificuldade que tive a calçar as meias também fez com que não as puxasse devidamente, a do pé direito estava enrugada e a começar a incomodar-me na planta do pé, não foi um final muito agradável. Acabei por fazer 47m20s no segmento de atletismo, dada a alta temperatura e o desgaste acumulado não foi mau, apesar de estar longe dos meus melhores tempos. Acabei a prova com o tempo oficial de 2h37m55s, longe de 2h30m que era o que pretendia, mas percebo facilmente os motivos disto ter acontecido. Depois da prova não me senti muito bem, dores de cabeça e suores constantes, provavelmente devido ao elevado calor durante a prova, mas foi um bom teste rumo ao Ironman.