Acho que este ano foi o derradeiro desafio no trajecto Tróia-Lagos e não creio que o volte a fazer, 3 vezes já chegou. Digo que este ano foi o derradeiro desafio pelo facto de ter sido feito só em 1 dia ao contrário dos anos anteriores que foi feito em 3 dias, e para dificultar ainda foi feito a solo.
Claro que estamos a falar de uma distância inferior e um percurso mais simples, desta vez a decisão foi fazer o percurso o mais curto e seguro possível, ou seja, só alcatrão sem BTT, e o mais directo possível o que pelas minhas contas reduziria em cerca de 50km a distância que fiz nos anos anteriores.
Para piorar a minha situação acertei num dos piores dias do ano, cheguei a Setúbal para apanhar o Ferry ainda não eram 7 da manhã, chovia e fazia um vento terrível, o Ferry inclusivamente atrasou a sua partida e receei ficar em terra pois as condições estavam péssimas para fazer a travessia, e havia o risco do Ferry ter de ser cancelado.
Quando cheguei a Tróia continuava a chover como senão houvesse amanhã, mas tive alguma sorte quanto ao vento que soprava essencialmente de noroeste, batendo-me quase sempre pelo meu lado direito e por trás o que não atrapalhava o andamento. O facto de pela primeira vez fazer uma viagem deste tamanho a solo, dependendo só de mim para qualquer problema mecânico e especialmente não podendo cair, pelo menos de uma forma que me deixasse incapacitado, colocava outra premissa é que não podia correr riscos nas descidas, curvas mais complicadas e mais uma vez nada de BTT.
Os primeiros 100km foram sempre feitos à chuva, paragens curtas para me alimentar mas rápidas o suficiente para não começar a ter frio. Por volta dos 125km senti-me bastante desgastado, fui obrigado a fazer uma paragem um bocadinho mais demorada de 20 minutos num café para retemperar forças. A parte da tarde que coincidiu com os últimos 90km a nível de chuva foi mais intermitente e o vento também começou a diminuir mais de velocidade.
Sabia que ia ter 2 subidas algo chatas, na zona na Zambujeira do Mar e à saída de Odeceixe, quando cheguei ao final da subida de Odeceixe, pensei que o pior já tinha passado e faltavam só 35km para o fim agora era um instantinho até ao final. Como me enganei...a seguir a Aljezur, na única parte do percurso que eu não conhecia apareceu-me uma subida que parecia nunca mais acabar, e depois de 170km eu só rogava pragas a tudo e perguntava quem tinha mudado a serra da Estrela de sítio. No fim da subida uma descida que nunca mais acabava, para se ter a noção do que subi depois desci quase durante 4 minutos a uma média superior a 50km/h.
Ao fim de 10 horas lá cheguei a Lagos...cansado...suado...sujo...molhado...meio morto...mas com orgulho em mim mesmo por ter ultrapassado mais um desafio.