sexta-feira, novembro 15, 2013

Novo tipo de escravatura

Este post surge de uma conversa que um amigo meu teve com um CEO de uma empresa para a qual trabalhei. Nessa conversa esse CEO estava a tentar contratar o meu amigo, e acabaram por falar sobre mim, ao qual o CEO acabou por comentar algo do género - "O Tiago era muito bom mas o horário dele era das 9h às 17h...estivesse o que estivesse a arder".

Bem vamos começar pelo início, eu sou daquelas pessoas que gosta de chegar cedo ao trabalho, sempre antes das 9h, mas também gosto de sair cedo pois tenho outras actividades que realmente gosto de fazer, contudo nunca saí antes das 18h, nem houve algum dia que fizesse menos de 8h de trabalho, ou que deixasse alguma coisa a 'arder'.

Já ando nisto à quase uma década e sei o que "a casa gasta", na área de IT está mais ao menos institucionalizado que se trabalha mais de 8h por dia sem que se receba mais por isso, aliás quem tenta respeitar o que está no contracto que são 40h semanais é que é o mau, mas os que fazem mais horas não são bons, são os normais.

Também já fiz muitas horas extras, inclusivamente quando trabalhava para esse CEO houve um mês que trabalhei 30 dias e descansei 1, a fazer muitas horas por dia, a trabalhar noite dentro porque tinha intervenções nocturnas, e qual foi o reconhecimento disso...uma palmadinha nas costas, foi mais ao menos nessa altura que comecei a abrir os olhos.

Outra coisa muito comum na área do IT é chegar-se tarde ao trabalho e ficar a trabalhar até mais tarde, mas aí já não há problema porque se fica a trabalhar até tarde isso é que é importante, porque chegar às 11h e sair as 20h é diferente de entrar às 9h e sair às 18h. E se eu trabalhar 4h e ficar à assobiar para o ar 6h também está tudo bem, interessa é mostrar que se está presente. Sempre achei e continuo a achar que se trabalharmos bem 8h estamos no nosso limite de produtividade a partir daí começamos a demorar muito mais tempo a fazer algo pois já estamos inevitavelmente cansados e com muito menos concentração.

Uma estratégia comum das empresas de IT é contratarem pessoas deslocalizadas, o que é bastante inteligente pois essas pessoas não têm actividades para além do trabalho, então literalmente vivem para o trabalho. E quando dizem que algo está a 'arder' que é preciso fazer um 'esforço extra', vejam bem se as coisas estão mesmo a arder, por experiência não está nada a arder é simplesmente uma maneira de fazer pressão para se trabalhar mais horas. Lembro-me de uma vez ter ficado a trabalhar até bastante mais tarde porque era necessário ter algo pronto porque outra equipa dependia desse trabalho para começar no dia seguinte. O que vim a verificar é que a tal equipa só pegou no que eu fiz uma semana depois, mas era urgente estar pronto no dia seguinte senão tudo ia arder...

Agora eu pergunto aquelas pessoas que fazem horas extras não remuneradas, acham que devem de investir esforço desta maneira? Já vi empresas a fechar e onde fica o esforço dessas horas extras? Em lado nenhum, vão para o olho da rua como os outros. Já vi pessoas a mudar de empresa porque estão descontentes na actual e onde fica o esforço dessas horas extras? Em lado nenhum, pensam que vão receber algum bónus quando saem, só vão receber frases reprovadoras dizendo que estão a tomar a decisão errada em sair.

O que me diz a minha experiência é que se quiserem investir horas extras na componente profissional invistam a evoluírem, a aprenderem, a evitar que se tornem em dinossauros. Até agora só conheço 2 maneiras de ter aumentos de ordenado, 1ª sair para outra empresa, 2ª ter propostas melhor para outra empresa e a actual paga para ficar, mas lá está isto só é possível se continuar a aprender para cada vez ser um profissional mais valioso a nível de conhecimento. Tirando isto os únicos aumentos que se conseguem são migalhas - "Toma lá mais 20€ brutos por mês já que ficas todos os dias a trabalhar até tarde pelo menos num deles vais jantar fora". 

10 comentários:

Pagês disse...

Muito interessante o que escreveu. Concordo com cada vírgula e ponto... só acrescento que não é só uma realidade IT :)

Pagês disse...

Achei muito interessante o desabafo e concordo com cada vígula e ponto... só acrescento que não é só com o IT :)

O Tê Tiiio disse...

Nem mais meu puto...

:(

Ricardo Andrés disse...

infelizmente não é só nas IT... é um "mal" quase geral... e olha que me revi em muita coisa que escreveste... muita mm!

Anónimo disse...

Eu tal como o teu boss anterior tambem nao te contratava. Ai esta a diferenca do mundo de hoje e do mundo de ontem. Sai la as 4h ou 5h da tarde e vai jogar as cartas para o jardim. A derefence entre a tua atitude e a do deu boss e simple: ele e boss e tu so la estas das 9h as 5h a fazer aquilo que o teu boss mandar. Entao se quiseres sair desta 'escravatura' e seres boss, entao da la mais umas horitas a empresa. Nao te fica nada mal e sempre podes jogar cartas no jardim noutro dia.

Tiago Sousa disse...

Normalmente uma pessoa que não tem nada a temer com as suas palavras não se esconde atrás do anonimato.

Não percebi a diferença entre o mundo de hoje e de ontem a que te referes!

Também não percebi a diferença entre o meu 'boss' e eu que falas...tenho de admitir que tenho alguma dificuldade em compreender as tuas comparações.

Também não percebi como dar mais umas horinhas à empresa que não é minha me tiraria da escravatura...aliás mas que escravatura eu recuso-me a ser escravo.

Nunca joguei às cartas num jardim mas de certeza que me ficaria muito melhor do que me vergar perante um chefe ou um wannabe como tu.

Fireshaker disse...

Subscrevo totalmente as tuas palavras.
Um Abraço

Johnny disse...

Esse anónimo do comentário de "16 Novembro, 2013 12:10", primeiro deveria aprender a ler, e depois aprender a escrever... Não me parece que tenha percebido nada do post, se é que o leu...

Ganda Tiago... Vai na volta, até conheço concretamente a situação que descreveste :p

Paulo disse...

Revejo-me fielmente nas linhas que escreveste. Na minha situação tento não deixar que isso aconteça, evitar sair para lá das horas que tenho de fazer.

Para os patrões o empregado está lá para o servir, a full time, sem direito a nada. Até acha que lhe deviamos pagar para trabalhar!

Acredito que ainda vai piorar no futuro, se é que vai haver futuro para a geração atual dos 30's e tais.

Rui Anónimo Alves disse...

Tiaguinho,

eu sou patrão a.k.a. "boss" e não subscrevo as palavras do Anónimo.

Vai ser preciso algum tempo até perceber-se que não é quantidade mas qualidade que nos irá fazer diferenciar a nível global.

As melhores ideias e insights que tive foram na praia, ou a jogar às cartas com amigos. Porque haveria de ser diferente com os meus colaboradores?

Mas também só faço 2,5M€/ano. Portanto o que saberei eu sobre o tema?

Forte abraço Tiago!
Rui Anónimo Alves.