quarta-feira, outubro 26, 2016

Kamelot no Lisboa ao Vivo

Foi a primeira vez que fui assistir a um concerto no armazém Lisboa ao Vivo. Se a nível de aspecto se parece por exemplo com o Incrível Almadense, a nível sonoro é um pouco pior, não sei se pela má colocação das colunas, pelo tipo de isolamento, nomeadamente do tecto em chapa, sei que o som não me pareceu muito bom.

Já que comecei a falar pelo som, quando entrei ainda estava pouca gente e acabei por ir lá para a frente para ao pé do palco, fiquei mesmo frente às colunas...estúpido...via bem, mas sem tampões aquilo estava agressivo, ao fim do concerto da primeira banda tive de andar duas filas para trás. 

Falando então da primeira banda os Withem, ouvi pela primeira vez 2 dias antes do concerto e até me pareceram bem. No entanto ao vivo não foi assim tão bom, mega simpáticos, boa interacção com o público, mas pior que uma mulher a cantar gutural é ter um homem a guinchar constantemente como se tivesse entalado algo no feixe das calças. Conheci-os mas não fiquei fã e não vou perder muito tempo a seguir a sua carreira. Este era o último concerto desta tour, e sendo o último concerto normalmente acontecem sempre brincadeiras extras. Qunado tocavam a última música entram em palco os bateristas dos Aeverium e dos Kamelot e começam a roubar pratos ao baterista. Como acharam que ele se estava a safa ainda lhe roubaram uns tambores, a actuação dos Withem acabou assim no meio de risadas e brincadeiras.


Avançando o espectáculo de seguida vinham os Aeverium. Também ouvi pela primeira vez esta banda 2 dias antes, e também me pareceu bem, neste caso foi uma confirmação que eram bons e para dizer a verdade ainda gostei mais deles ao vivo que quando ouvi os vídeos no youtube. Têm uma sonoridade muito própria, em alguns momentos devido ao som mais electrónico, digitalizado, com uma voz mais melódica e outra mais agressiva até me podem fazer lembrar Linkin Park ou Amaranthe, mas sem dúvida que se voltar a ouvir músicas deles os reconhecerei. 

A voz masculina era especialmente boa, com um aparelho respiratório considerável e uma dinâmica em palco soberba, boa comunicação, boa atitude, a dar tudo o que tinha. A voz feminina era afinada sim, mas lá está, num aparelho respiratório pequenino é difícil aguentar as notas. Para além disso era mais tímida e a interacção com o público ficou sempre a cargo do elemento masculino. A brincadeira do rouba baterias virou-se agora contra os Aeverium, além de roupa interior a voar pelo palco dos elementos dos Withem, o baterista dos Aeverium ficou praticamente sem bateria, só com 2 pratinhos e 2 tamborzinhos. Nisto o vocalista virou-se - "É pá mas a gente ainda quer tocar mais 1 música, desta vez esta não era a última, não querem devolver qualquer coisinha só para desenrascar?". Muito boa actuação, voltem para comer a nossa deliciosa comida como disseram, e já agora para tocarem outra vez.


Faltavam os Kamelot como prato principal. Mal começa o concerto apercebi-me logo que o som estava mal configurado, a bateria super alta a voz super baixa mal se ouvia, acho que durante o concerto ainda tentaram corrigir isso, mas mesmo assim achei que todo o concerto não estava com o som muito bem afinado o que foi desde logo uma pena.

A set list do concerto foi aquela que esperava e que era do meu agrado, gostava de quase todas as músicas. Mas sem dúvida que a que me dizia mais era a velhinha "Center of the Universe", ouvir esta música ao vivo só não foi o máximo por causa das afinações do som, mas mesmo assim é das músicas que mais gosto.



Gostei também que em certas músicas os vocalistas dos Aeverium tenham participado, acrescentou mais poder à parte vocal. Uma óptima opção foi substituírem a voz da Alissa White-Gluz nas músicas onde ela participava no album pela voz da vocalista dos Aeverium, está bem que a voz de uma não tem nada a ver com a voz da outra, mas para mim é preferível a ter uma voz gravada por trás. Tenho ainda de realçar a música "Forever", uma música que em album tem 4 minutos, no concerto foi tocada durante mais de 15 minutos, devido à interacção com o público que foi mais uma vez mega para os artistas, aquele refrão foi cantado vezes sem conta, primeiro a pedido e depois de uma forma natural por toda a gente dentro do armazém. Com este público todos os artistas que passam por cá só podem querer voltar, às vezes podemos não ser muitos, mas sem dúvida sabemos acarinhar e reconhecer o bom trabalho das bandas.


Kamelot Setlist Lisboa ao Vivo, Lisbon, Portugal, Haven World Tour 2016

domingo, outubro 09, 2016

Ironman Barcelona - a prova

O dia começou cedo, por volta das 5h o Mário não conseguia dormir mais e começou-se a preparar para a prova, como partilhávamos o quarto acabei por acordar também quando era suposto só acordar às 6h. Lá comecei a equipar-me calmamente e a fazer os meus noodles para o pequeno almoço. Detesto comer muito quando acabo de acordar, tive de me obrigar a comer um pouco mais porque precisava de todas as energias disponíveis para a prova. Os meus objectivos eram: 1) acabar o Ironman; 2) divertir-me; 3) acabar abaixo das 13h de prova.

Acabámos por chegar por volta das 7h ao parque de transições, rapidamente verifiquei que estava tudo bem com a bicicleta e só necessitei de colocar o cantil de isotónico. Por sorte a minha bicicleta estava na ponta do corredor o que facilitava a saída e entrada no parque de transições. Fui até à tenda da transição e coloquei alguma comida nos sacos, nomeadamente uma fatia de pizza e umas bananas. Faltava ainda algum tempo, eu e o Nelson fomos aquecer um bocado já na praia com uma natação muito ligeira. Para mim foi mais para descontrair e experimentar aquela água na qual ainda não tinha nadado.

Por volta das 8h entrámos nas caixas de partida, decidi entrar na caixa de 1h10m (tempo que levaria a concluir o segmento de natação), fiquei sozinho pois nenhum dos meus colegas escolheu aquela caixa. A partida dos profissionais seria dada às 8h10m e nós começaríamos a sair às 8h20m por ordem das caixas mais rápidas até as mais lentas. As partidas acabaram por atrasar 5 minutos devido a um problema eléctrico, e como eu já calculava esta seria a altura onde eu começaria a ficar nervoso, é sempre assim, fico nervoso só a poucos minutos do começo quando alinhamos para a partida, ainda para mais havendo atrasos. No meio daquela música épica olho para o céu, lembro-me da minha avó, do meu filho, dos sacrifícios que fiz desde o início do ano, das privações a que me sujeitei, das inúmeras horas de treino ao frio, à chuva, ao vento e acabo por começar a chorar. As lágrimas eram incontroláveis, provavelmente foi a forma de aliviar o nervosismo que estava a sentir. Nisto outro triatleta olha para mim e levanta o pulgar, eu respondo com um sorriso e levantado também o pulgar. 

É dado o tiro de partida para os profissionais e o nervosismo é substituído por curiosidade levanto o pescoço tipo girafa para conseguir ver a saída para a água. Começo a analisar a natação para ver se notava alguma corrente, e apesar de não haver corrente a bóia estava ligeiramente descaída para a esquerda por isso queria sair o mais à esquerda possível. Rapidamente abre a minha caixa para sairmos e vou colocar-me o mais à esquerda possível. Pela primeira vez, nesta prova, foi usado o sistema de "Rolling start", ou seja, de 4 em 4 segundos saíam 6 triatletas, como contava era o tempo de chip que só era iniciado quando passávamos o portico da partida ninguém ficaria prejudicado. Isto foi óptimo e gostava que fosse replicado em outras provas, diminui imenso a confusão e cotoveladas dentro de água, ainda por cima se formos a nadar com triatletas com tempo idêntico de natação só temos todos a ganhar.

O primeiro quilómetro foi feito em 17 minutos, calculei logo que haveria corrente a favor nesta fase, não achei que estivesse assim a esforçar-me tanto de modo a que o tempo fosse assim tão bom. Aos 2 quilómetros 35 minutos, numa natação muito tranquila só perturbada por algumas alforrecas das quais me ia desfiando. A partir do momento da viragem, em que começámos a andar em sentido contrário senti que o ritmo estava a  diminuir, havia mesmo uma ligeira corrente que diminuía o ritmo. O que é engraçado é que todos os meus colegas de equipa acharam o contrário, que a segunda parte tinha sido mais rápida, eu pelos meus números sei que fui mais rápido na primeira metade, e tenho quase a certeza que isso se deveu à corrente. Saí bastante soltinho da água com 1h12m05s, quase 2 minutos melhor que no meu último teste no swim challenge de Cascais.


Fiz uma transição com calma, meti vaselina nos pés, garanti que as meias estavam sem rugas, comida nos bolsos e siga para o segmento que mais temia. O segmento de ciclismo sempre foi o meu segmento mais fraco, apesar do muito treino dedicado. Mas acima de tudo temia alguma avaria ou alguma queda que deitassem por terra a minha prova e todo o esforço na sua preparação. O tempo estava espectacular, totalmente encoberto, numa temperatura ideal para a pratica de desporto. Depois do reconhecimento que tinha feito no dia anterior com o Mário achei que conseguia fazer uma média de 30km/h o que daria um tempo final neste segmento de 6 horas.

Nos primeiros quilómetros antes da subida ia rolando a 35-40km/h, incrível e sentia-me super bem, comecei a suspeitar que apesar de não se ver nas árvores e arbustos, provavelmente estaria com um ligeiro vento pelas costas. Mas o que mais me surpreendeu foram as "locomotivas" que passavam por mim, eu aquela velocidade e eles passavam por mim a uma velocidade verdadeiramente impressionante. Quando cheguei à subida a minha bicicleta fez a diferença para as bicicletas de contra relógio, se no plano perdia imenso tempo ali fui sempre a ultrapassar outros triatletas com a minha bicicleta muito mais leve.


Após o retorno percebi logo que realmente estava vento, em algumas zonas planas passei de 34km/h num sentido para 26km/h no outro sentido, estes 40km de retorno para acabar a primeira volta não foram fáceis. No final da primeira volta parei a primeira vez para aliviar a bexiga, o engraçado foi quando sai da cabine e agarrei na bicicleta, estava logo um voluntário pronto para me empurrar para eu retomar a prova o mais rapidamente possível. No final da primeira volta tinha demorado 2h44m, tempo espectacular, agora restava saber se o meu baixar de velocidade no retorno se devia só ao vento. Depois do retorno a velocidade voltou a subir, não para os níveis iniciais, mas ia claramente acima de 30km/h, sim estava a ficar desgastado mas não tanto assim. 

Por volta dos 105km comecei a sentir algum desconforto no rabo e virilhas, não treinei muito a posição de cabra na bicicleta em percursos grandes, e esta posição traz outro tipo de desafios. Comecei a aproveitar qualquer subida para me levantar e aliviar o rabo de estar sempre sentado no selim. Quando comecei a subida nesta 2ª volta percebi que já não estava a conseguir impor um grande ritmo, não fui passado por muitos triatletas mas também não passei por muitos. Até ao retorno até fui mais ou menos confortável, agora a seguir ao retorno, com vento de  frente percebi que esta seria a altura de sofrer, este foi o meu pior momento no Ironman. No retorno fartei-me de ser ultrapassado por mini pelotões, sim haviam bastantes árbitros, sim vi mostrar vários cartões azuis, contudo acho que o crime compensou para a maioria, não podiam andar na roda uns dos outros, mas quase todos o faziam, eu quis ser honesto e acabar o Ironman sem batota e com isso perdi alguns minutos e despendi algum esforço extra.


Acabei o ciclismo com 5h44m, tinha feito uma média de 30km/h na segunda metade do percurso, apesar da quebra não piorei assim tanto, e acabei o percurso de ciclismo abaixo das minhas melhores expectativas. Ao entrar na tenda de transição não vi o meu saco no sítio onde deveria estar. Ainda bem que dei um laço na corda do saco, assim consegui perceber que o meu saco estava deslocado uns 5 ganchos para o lado onde deveria estar. Massajei os joelhos com Voltaren, o esquerdo começou a doer-me ligueiamente no final da bicicleta e o direito foi de prevenção, pois devido aos treinos nos últimos dias antes do Ironman andava a doer-me e foi a minha maior preocupação nos dias que antecederam. Comecei a correr, e nessa altura percebi realmente que aquele era o meu dia, os tempos estavam a sair melhor do que podia imaginar, sentia-me bem e agora muito dificilmente não acabaria o Ironman, nem que fosse a coxear até à meta.


Os primeiros quilómetros correram super bem, ao ponto de pensar que talvez conseguisse bater o meu melhor tempo da maratona que é 3h50m. Contudo a minha capacidade física foi baixando, apesar de não sentir dores nem um desconforto assim tão grande, o meu ritmo foi descendo progressivamente. A meia maratona ainda foi feita baixo das 2h, nessa altura soube que iria conseguir superar tanto as 13h de prova como quase de certeza que baixaria da barreira das 12h. Por volta dos 24km ainda tive de fazer outra paragem rápida para ir à casa de banho, queria ter poupado esta paragem mas não ia aguentar até ao final. A 8km do final começaram a doer-me os joelhos, já faltava pouco, já começava a cheirar a meta, era sofrer só mais um bocadinho.


Quando entrei naquele mágico tapete vermelho da recta da meta abrandei, quis desfrutar daquele momento, ajeitei o fato como os ciclistas profissionais fazem antes de cortar a meta, tirei a chucha do meu filho do bolso que me acompanhou durante toda a corrida, ergui os braços e comecei a saltar virado para as bancadas. Estava tão inebriado que nem ouvi o comentador dizer a tradicional frase - "Tiago you are an Ironman" - dei um último salto, gritei e ri de felicidade, tinha acabado de atingir o maior desafio desportivo a que me tinha proposto.

Apesar do cansaço queria desfrutar até ao último momento daquela festa. Fui busca a bicicleta ao parque de transições, fui até ao hotel para um banho rápido e voltei para a bancada da recta da meta para a hero hour (hora do herói). A hero hour é a última hora de prova, a última hora em que os triatletas podem cortar a meta dentro do tempo limite. Tenho o maior respeito por estes triatletas, mais do que por muitos dos que acabaram no topo da tabela, o sofrimento, o estado debilitado que muitos chegavam, a força de vontade para terminarem a prova, é algo pelo qual eu faço uma vénia.


No final devo dizer que o mais difícil de fazer um Ironman é mesmo a preparação, são longos meses de treino e de muitos sacrifícios. Pessoalmente, tive momentos complicados para conseguir cumprir um plano mínimo de treinos, em Março quase não treinei devido a uma queda de bicicleta, em Junho nasceu o meu filho, em Agosto conciliar as férias de família com o treino e no final do mês a morte da minha avó. Se em casa as coisas eram complicadas, sempre a pedirem para treinar menos tempo, para não fazer tantas provas, para passar mais tempo em casa, para terem mais atenção da minha parte, por outro lado os meus colegas de equipa e de treinos sempre me apoiaram, sempre me fizeram acreditar que era possível. O caminho foi longo e difícil mas agora posso dizer com orgulho - "I'M AN IRONMAN".



Vídeo oficial

O vídeo da minha prova

quarta-feira, outubro 05, 2016

Ironman Barcelona - os dias anteriores

O tão desejado e ao mesmo tempo receado desafio estava aí à porta, era hora de rumar a Barcelona para o meu primeiro Ironman. Sentia-me bastante tranquilo, nada ansioso, sabia que tinha feito tudo o que estava ao meu alcance para estar o melhor preparado possível, queria que chegasse o dia da prova para desfrutar dela, e acreditava que se não tivesse nenhum azar, melhor ou pior conseguiria cortar a meta.

A viagem acho que foi o primeiro desafio, quase 1300 kms, quando o máximo que tinha feito num dia nunca tinha ultrapassado os 500 kms. Saímos de Cascais por volta das 5h30m de 5ª feira, graças à simpatia da câmara de Cascais que nos emprestou uma carrinha conseguimos ir todos juntos, todos nós virgens no Ironman, eu mais os meus colegas de equipa Mário Santos, Ricardo Costa, Nelson Moreira e Gonçalo Sousa. Chegámos a Calella (localidade perto de Barcelona onde decorre o Ironman) já perto das 22h30m locais, todos amassados de uma viagem super desgastante, foi só tirar tudo da carrinha, comer algo rápido e ir descansar. Durante estas longas horas com se pode calcular todas as conversas giraram à volta da prova, expectativas, receios, objectivos, etc, e claramente eu e o Nelson éramos os mais calmos.


Na 6ª feira começámos logo o dia por ir fazer o registo na prova, recolher as nossas coisas e despachar a parte mais burocrática. A magnitude da prova é uma coisa absolutamente impressionante, nada perto do que já tenha vivenciado, parecia que estava num campeonato do mundo ou nos jogos olímpicos, estamos a falar de quase 3000 triatletas, famílias inteiras a vir ver a prova, tendas por todo o lado, equipamento e mais equipamento, atletas a correr e a pedalar por todo o lado, via-se e respirava-se triatlo em cada canto daquela cidade. Esta grandiosidade só era comparável aos preços absolutamente absurdos do merchandising da prova, devem pensar que todos os países se regem pelos padrões da Suiça, mas o que é mais incrível é que aquilo vendia como se fossem garrafas de água no meio do deserto, por isso percebo que os preços sejam aqueles.

A seguir a isso pegámos na carrinha e fomos percorrer o percurso de ciclismo, queríamos ir ver a única subida do percurso que iria ser feita duas vezes. A subida em si não me assustou, tinha cerca de 7kms mas com inclinações a rondar os 3%-4% em que as rampas mais agressivas não ultrapassariam os 8%, bom para as minhas características. O início do percurso é que não me agradou muito, pensava que o percurso era todo plano tirando aquela subida, mas a saída de Calella era algo acidentada, a estrada ondulava com diversas pequenas subidas.

Ao final da tarde fomos correr um pouco para soltar as pernas depois de tantas horas sentados na carrinha no dia anterior, escolhemos mais ou menos a hora em que calculámos que no dia da prova estaríamos a correr. O percurso era muito bom, sempre plano e mais importante que isso, bastante abrigado do sol em grande parte da sua extensão. Entretanto também chegou o Felício que foi ajudar na organização do evento, para aprender um pouco sobre a dinâmica do mesmo, visto que vai ser uma das pessoas responsáveis pelo Ironman 70.3 de Cascais no ano que vem. O coitado estava cheio de vontade de fazer a prova que até dava pena, notava-se que ele trocaria num piscar de olhos a posição dele com a nossa.


Para além do Felício também chegou o David Sanglas, o nosso veterano do Ironman que vinha participar no seu 6º Ironman. Nessa noite tivemos a "Pasta Party", um jantar oferecido pela organização para todos os triatletas e como o nome indica, à base de massa, venham os hidratos que bem seriam precisos para domingo. Durante o jantar massacramos o David com perguntas, especialmente no que tocava às transições, pois nesta prova as transições não funcionam como em provas de triatlo normal, e a nossa inexperiência traziam-nos algumas questões quanto ao detalhe como as transições se procederiam. Basicamente em vez de termos um cesto com o equipamento ao lado da bicicleta, nesta prova temos uma tenda com um cabideiro enorme, em que cada triatleta tem uma posição na qual coloca dois sacos, um com as coisas para a transição da natação para a bicicleta, e outro para a transição da bicicleta para a corrida.


No sábado de manhã decidimos dividir-nos, eu e o Mário queríamos ir experimentar uma parte do percurso de ciclismo a pedalar, e os restantes queriam ir fazer uma natação rápida para experimentar a água, seguido de um ciclismo rápido. Para mim quem está habituado a nadar nas águas portuguesas nada em quase todas as águas, e então no Mediterrâneo esperava um mar calmíssimo, com água muito mais quente e muito mais salgada, por isso abdiquei de experimentar o segmento de natação, decidi que experimentaria no aquecimento no dia da prova. Enquanto estávamos a experimentar o percurso de ciclismo fiquei um pouco mais tranquilo, aquele ondulado inicial que parecia chato quando fizemos de carro, a pedalar, e aproveitando algum balanço que se conseguia parecia relativamente tranquilo. A única preocupação foi o vento frontal que se apanhava no retorno, mas segundo as previsões o vento ia ser quase inexistente no dia seguinte e sendo assim, tanto eu como o Mário achámos que era possível fazer uma média de 30km/h no ciclismo, algo totalmente impensável para mim há uns meses atrás, quando pensei em fazer o Ironman o meu objectivo era fazer o segmento de ciclismo a uma média de 27km/h.

A seguir a um banho rápido fomos ouvir o briefing da prova, mais uma vez impressionante a quantidade de triatletas, a quantidade de pessoas que ia fazer pela primeira vez o Ironman, a quantidade de nações representadas, a diversidade de pessoas, o show à volta do briefing, o detalhe, absolutamente impressionante. Da parte da tarde fomos colocar as bicicletas no parque de transição, até dava vergonha a minha bicicleta ao pé daqueles maquinões todos, o que me dava alento era pensar que mais vergonhoso seria quando eu na minha "amostra de bicicleta" passasse por alguns daqueles maquinões durante a prova. Além da bicicleta também fomos colocar os sacos no cabideiro para as transições. Nessa altura é que me apercebi da verdadeira confusão, era ainda pior do que pensava, os sacos ficam totalmente atafulhados uns com os outros, todos iguais, só identificáveis pelo nosso número, a distância entre os cabides não era superior a 2cm, se alguém mexesse no nosso saco e o trocasse de sítio nunca mais o encontrávamos. Apesar de inexperiente não sou parvo nenhum, então fiz um pequeno laço nas cordas dos meus sacos, coisa que ninguém tinha feito, pelo menos ali nas minhas redondezas, desta forma conseguia identificar rapidamente os meus sacos, nem que estivesse a 3 metros de distância deles.


Era agora hora de descansar, dormir, o dia seguinte era o grande dia...