Mais de 2 anos depois voltei a participar num triatlo, e curiosamente, o último triatlo que tinha feito foi exactamente o triatlo de Setúbal de 2019. Este triatlo foi totalmente diferente para mim do triatlo de 2019, em 2019 fui só fazer o triatlo para me divertir, porque me disseram, e com razão, que era o melhor triatlo longo a ser realizado em Portugal, este ano o triatlo era um teste para aferir a minha forma na preparação para o Ironman de Cascais a ser realizado 3 semanas depois.
Este triatlo acabou por ter um sabor agridoce, mas vamos começar pelo início. Quando me desloquei para o parque de transição pela madrugada apanhei logo um banho de chuva, o tempo estava mau e rezava naquela altura para que o tempo melhorasse, mas de qualquer forma a estrada certamente estaria molhada para o segmento de bicicleta, o que o tornaria mais perigoso. Cerca de 15 minutos antes da partida, quando estava a fazer o aquecimento na praia, lá a chuva deu tréguas para não mais voltar. Começa o segmento de natação e estava-me a sentir muito à vontade, melhor do que pensaria estar, até à primeira boia amarela andei a saltitar de pés em pés porque sentia que conseguia ir mais rápido. Nos primeiros 500 metros demorei menos de 8m30s, ou havia corrente, ou estava a abusar no ritmo. Depois dessa boia estabilizei atrás de uns pés que me pareciam estar ao ritmo que devia de ir, confortável mas não demasiado devagar, mesmo assim fiz pouco mais de 9 minutos nos segundos 500 metros. Pouco antes de sair de água para contornar a boia que estava em terra levei uma trolitada na cabeça de uma mulher que me deixou meio tonto e me fez perder os pés que estava a seguir. Eu não gosto muito destas saídas da água a meio do segmento de natação, passar da posição vertical para a horizontal pareço sempre um bêbedo a sair de dentro de água. Dali até ao final do segmento era muito rápido, era manter a natação tranquila atrás de alguém. Antes de sair de dentro de água reduzi um bocadinho o ritmo para sair mais direito, depois ainda fiquei no engarrafamento das escadas que davam acesso ao parque de transição, mas de qualquer forma o tempo de 34m29s, a uma média de 1m50s/100metros, foi muito melhor do que estava à espera e muito melhor que o ritmo ao qual tenho estado a treinar, tendo saído na posição 172.
A primeira transição nunca é muito rápida, mas nada que envergonhe para quem não tem qualquer ambição ao nível da classificação geral. Quando pus os braços nos extensores, ainda em Setúbal e olhei para baixo reparei que tinha deixado os travões abertos, em andamento lá fechei os travões. Sou mesmo distraído, isto podia ter dado para o torto senão tivesse reparado naquela altura, pois quando tentasse travar numa descida, aí ia reparar que não estava a travar com efectividade. O início do percurso de ciclismo era praticamente plano seguido da primeira incursão à Serra da Arrábida. Na altura do primeiro retorno, pouco antes do Portinho da Arrábida, e já com a pior parte da montanha feita quando estávamos quase com 30kms feitos, levava cerca de 1 hora de prova, estava na posição 191, e sentia-me super entusiasmado, mesmo não indo a fundo porque não me queria desgastar demais a 3 semanas do Ironman, estava com uma média de quase 30km/h.
Mas como disse no início foi uma prova agridoce, estava tudo a correr bem, sensações óptimas, médias boas, contudo estamos sujeitos a uma série de problemas que nada ou pouco controlamos no segmento de ciclismo. Aos 32kms quando me pus de pé para ganhar ímpeto numa rampa curta mas dura a roda da frente escorrega-me estranhamente. Mais uma pedalada e volta a escorregar, tinha o pneu em baixo devido a um furo. Pedalei mais uma dezena de metros e parei no topo da rampa para trocar a câmara de ar. Mal eu paro para também atrás de mim o Francisco Osório também com um furo, e passado uns segundos mais outro ciclista que me pediu a bomba que estava com um furo lento e queria tentar chegar ao posto de assistência mecânica. Naquela altura estávamos ali 3 triatletas parados com furos. O tal rapaz encheu um bocado o pneu e seguiu caminho. Eu tirei o pneu da jante, tirei a câmara de ar, pus a nova câmara de ar, tudo isto relativamente rápido. Entretanto o Francisco estava com dificuldades a tirar o pneu da jante. Disse-lhe para me deixar tentar e dei-lhe a minha roda pedindo-lhe para me por o pneu da jante. Aquilo estava difícil, mas com a ajuda de um árbitro que chegou entretanto lá conseguimos desencaixar o pneu da jante. Normalmente sou muito crítico com os árbitros, acho que para triatletas de meio da tabela como eu se comportam de uma maneira intransigente, como se lutássemos pelo primeiro lugar, neste caso só posso dizer bem deste árbitro, foi incansável a tentar ajudar-nos e no final ainda foi ao ponto de assistência mecânica buscar câmaras de ar.
Bem, quando voltei a trocar de roda com o Francisco e ele devolveu-me a minha, começo a reparar que o pneu não estava bem encaixado na jante na zona do pipo. Volto a desencaixar o pneu, ajusto a câmara de ar mas o pneu não encaixava na jante por nada, nunca tal me tinha acontecido... Começo a ver a minha vida a andar para trás, já estava à 10 minutos parado e ainda estava praticamente na estaca zero. Tinha de fazer algo rápido, se a câmara de ar nova não dava tinha de tentar reparar a antiga visto que tinha remendos rápido, era a minha única solução. Enquanto isto o Francisco já tinha posto uma câmara de ar nova, tinha enchido mas conforme enchia ela voltou a furar, provavelmente não limpou bem o pneu e o que furou a primeira câmara de ar furou também a segunda. Eu estava com o ouvido junto à minha câmara de ar a tentar descobrir o furo, quando o árbitro me disse - "Olha está ali uma poça da chuva, nem tudo é mau de ter chovido." - mal pus a câmara na água vi logo o furo, com a pressa nem verifiquei o resto da câmara de ar, podia ter corrido mal se tivesse mais de um furo. Lá reparei o furo e estava pronto para seguir caminho, o Francisco frustrado decidiu desistir e por isso eu ia seguir caminho. Ainda perguntei ao árbitro se valia a pena seguir, se ainda estava dentro do tempo de controlo, ao que ele me respondeu que ainda haviam alguns triatletas atrás de mim. Tinha com este problema perdido cerca de 27 minutos. Ao tentar arrancar ainda tive de voltar a parar, os meus sapatos tinham tanta lama de ter estado na berma que não encaixavam nos pedais, lá bati com os pés no chão e com alguma dificuldade lá encaixei os sapatos nos pedais.
Escusado será dizer que comecei de imediato as ultrapassagens, normalmente sou atleta de meio da tabela e neste momento estava a jogar na liga dos últimos, por isso era normal estar só a fazer ultrapassagens e não estar a ser ultrapassado. Até Setúbal ia constantemente a olhar para o pneu da frente a ver se continuava cheio, sempre com medo que não tivesse resolvido definitivamente o problema. Era uma motivação extra as ultrapassagens e aliado ao facto de ter o vento pelas costas fiz uma óptima média até o retorno na Mitrena. Nessa altura, e apesar das ultrapassagens que já tinha feito, ia na posição 383, tendo em consideração que só acabaram o triatlo 391 triatletas, não ia assim tanta gente atrás de mim que ainda tenha acabado o triatlo, estava praticamente em último. O trajecto entre a Mitrena e o centro de Setúbal foi aquele que senti que me esforcei mais do que queria, o vento estava contra, e tive me esforçar mais para o ritmo não cair em demasia. No segundo retorno no Portinho da Arrábida já ia na posição 366, pouco a pouco ia recuperando lugares. Ainda antes de acabar o segmento de ciclismo apanhei a Teresa Sepúlveda, parei um pouco ao lado dela para lhe dar uma força já que estávamos quase a chegar a Setúbal, mas acabei por seguir antes que algum árbitro visse e recebêssemos alguma penalização por excesso de zelo dos árbitros. Acabei o segmento de ciclismo na posição 355, certamente ultrapassei mais de 35 triatletas depois do furo, com o tempo de 3h40h28s, teria tido um bom tempo final se descontarmos os 27 minutos que tive parado.
A segunda transição neste triatlo é supersónica, visto não termos de arrumar a bicicleta, só sendo necessário entregá-la a alguém da organização. Saí bastante "soltinho" para a corrida, sentia-me muito bem e vendo em retrospectiva até andei rápido demais, não devia ter puxado tanto nos primeiros quilómetros, mas deixei-me levar pelo entusiasmo. Até aos 8 quilómetros, que foi até à altura onde me senti melhor, já ia na posição 337, com uma média de 4m39s/km. A minha ideia era fazer uma média de 5min/km, para não ficar muito amassado. Os 8 quilómetros seguintes já fiz a um ritmo confortável, a um ritmo que considero aguentar durante bastantes quilómetros se for necessário, os tais 5min/km. Por volta dessa altura já ia na posição 316, eu não sabia, mas apesar de ter diminuído o ritmo continuava a recuperar bastantes posições. Mais ou menos por volta dessa altura comecei a sentir um desconforto no joelho esquerdo, diminuí a largura da passada e aumentei a cadência, ou pelo menos tentei, de forma a diminuir o impacto da passada e a carga no joelho. O desconforto foi passando, contudo não voltei a aumentar o ritmo tirando já mesmo perto do final. Acabei o segmento de atletismo com 1h42m18s, com um tempo total final de 6h01m18s, na posição 295 da geral. Senão tivesse tido aquele problema na bicicleta teria acabado muito perto das 5h30m, o que seria um óptimo tempo para mim neste triatlo.
Fazendo agora uma retrospectiva da prova, foi um bom teste para o Ironman, consegui nos 3 segmentos fazer melhores médias e ter melhores sensações do que esperava. Uma palavra para a organização, este sem dúvida é o melhor triatlo longo organizado em Portugal, bons percursos, bons abastecimentos, bom apoio logístico, boa organização, pouca coisa considero que pode ser melhorada, e a um preço simpático comparando com organizações de nível idêntico. Será um triatlo que voltarei a fazer no futuro, nem que seja com pouco treino só para me divertir.
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