Eu quero acreditar que ainda um dia vamos ouvir a portuguesa no pódio final do Dakar, mas a verdade é que todos os anos parece que é adiado o inevitável, e infelizmente este foi mais um desses anos. Tendo 3 pilotos nacionais que poderiam perfeitamente ocupar os 3 lugares de pódio, Paulo Gonçalves, Rúben Faria e Hélder Rodrigues, ainda por cima em marcas diferentes sendo os chefes de equipa dessas marcas, tinha esperanças que seria este o ano. Além disso este ano a luta pela vitória parecia muito mais aberta, sem o Marc Coma e o Cyril Despres que entre eles ganharam os últimos 10 Dakar em mota, muitos pilotos tinham mais aspirações ao lugar mais alto do pódio.
Nos primeiros dias as Honda tiveram irrepreensíveis, Paulo Gonçalves e o seu companheiro de equipa Joan Barreda dominaram as todas poderosas KTM (a última vez que uma mota não KTM ganhou o Dakar foi logo no inicio do século em 2000), Rúben Faria na sua Husqvarna mantinha-se sempre entre os primeiros, enquanto que o Hélder Rodrigues devido a uma virose não os conseguia acompanhar e estava com alguma dificuldade em chegar ao TOP 10.
Mas o Dakar é uma prova de resistência e consistência, onde o importante é não ter nenhum problema que provoque uma eliminação ou afastamento dos lugares da frente. A 7ª etapa trouxe o primeiro dissabor para as cores nacionais, o Rubén Faria é obrigado a abandonar depois de partir um pulso numa queda. Esta também foi a etapa que o Joan Barreda teve problemas mecânicos e ficou muito afastado da frente, ficando assim o Paulo Gonçalves como líder incontestável da Honda, na frente do Dakar e mostrando um andamento superior aos outros. Devo confessar que nesta altura pensei mesmo que este seria o ano.
Depois de 4 dias na liderança do Dakar as coisas continuavam a correr bem apesar das KTM cada vez mais mostrarem uma aproximação, assim como o Hélder Rodrigues que após debelar a doença começava a demonstrar um andamento com a sua Yamaha que não conseguiu nos primeiros dias. Há 9ª etapa a sorte de Paulo Gonçalves começou a mudar, a primeira queda, não muito grave mas o suficiente para perder algum tempo e perder também o 1º lugar para uma KTM.
10ª etapa e um problema no radiador, que só por sorte não o levou logo ao abandono do Dakar, mas caído para 3º lugar já a mais de 30 minutos do 1º lugar, acabava assim de forma inglória as nossas hipóteses de vitória este ano, restava a luta pelo pódio. Ontem na 11ª etapa mais uma queda para Paulo Gonçalves e o abandono do Dakar, acabou assim qualquer esperança no mínimo de pódio. Neste momento as KTM ocupam os 3 primeiros lugares e mais uma vez vão ganhar o Dakar, mostrando uma consistência da marca a todos os níveis.
Falando um bocado das outras categorias, outra classe que é totalmente dominada por uma marca são os Quads, a Yamaha prepara-se outra vez para ocupar os 3 lugares de pódio, com o retorno ao mais alto nível dos irmãos Patronelli, que parece que vão discutir entre si a vitória final ao segundo. Se nas motas e quads tudo continua na mesma, nos carros e camiões os dominadores dos últimos anos parece que estão condenados a cair. Nos camiões os russos da Kamaz nunca mostraram este ano estarem à altura dos Iveco, mesmo assim ainda vão conseguir um lugar no pódio. Isto é se os camiões da Iveco com uma vantagem gigante não tiverem mais problemas que os obrigue a abandonar, porque andamento têm mas também têm tido alguns problemas mecânicos.
Nos carros a Mini depois de 4 anos seguidos a ganhar parece que vai passar o testemunho à Peugeot, não cometa nenhum erro até ao final o Stéphane Peterhansel. A Peugeot tem estado totalmente dominante este ano, a Mini nunca mostrou andamento para os acompanhar, senão fossem os azares/erros dos outros Peugeot, nomeadamente o Sebastian Loeb e o Carlos Sainz, facilmente teríamos os 3 Peugeot nos 3 lugares do pódio. Uma palavra ainda para o Loeb, quase que aposto que irá ser um caso sério nos próximos anos, tem um andamento que dificilmente é acompanhado pelos outros carros de igual nível, tenha ele um carro à altura (como teve este ano) e tenha aprendido com os erros deste ano e acredito que estamos na presença de um futuro multi campeão do Dakar.
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