A minha primeira viagem a África, apesar de ter de admitir que sinto mais África na Amadora do que em Cabo Verde, pelo menos a maior parte a ilha do Sal é altamente turística e muito europeia. Logo inicialmente houve algo que me provocou alguma estranheza, pensei que no voo fossem só praticamente portugueses e cabo verdianos, não poderia estar mais enganado, muitos espanhóis, franceses, ingleses e alemães, ainda não consegui perceber como Cabo Verde se tornou um destino tão universal, é surpreendente.
A ilha do Sal pode ser dividida em três regiões, apesar de toda a ilha ser árida e a única coisa que produzem ser sal, talvez daí o nome Sal. Temos o sul que é a zona dos resorts, praias deslumbrates, super limpa, muito europeia em que metade das pessoas devem ser turista. Zona centro onde está o aeroporto, a capital Espargos, a pequena vila pescatoria de Palmeiras e a maior extracção de sal na cratera de um vulcão as Salinas de Pedra de Lume. E finalmente a zona norte que é um deserto de pó totalmente árido onde a única coisa que tem para ver é o Buracona, que é um buraco na falesia que reflete a água num azul espetacular.
Uma coisa que devo referir é que nunca senti qualquer tipo de insegurança e andei bastante a pé de um lado para o outro, inclusivamente à noite e em sítios com pouca iluminação. Sim fui abordado algumas vezes para comprar coisas mas não mais que isso. O único sítio, que posso dizer que senti um pouquinho do que estamos habituados a ver de África, foi a norte de Espargos na transição para o deserto, onde há enormes bairros de lata com imensas crianças descalças a brincarem pelas ruas. Mas lá está, devo dizer que aqui perto na Damaia já vi coisas bem piores.
Todas as pessoas foram afáveis connosco, seja dentro do resort, fora do resort, em todo o lado nos sentimos sempre bem acolhidos. Uma coisa que me deixou algo transtornado foi a quantidade de comida sempre disponível no resort, com pessoas a estragarem comida, e fora do resort pessoas a passarem miséria e fome. Inclusivamente cheguei a por comida na mala para dar a umas pessoas que me pediram. Mas o que é impressionante é que os cabo verdianos são pobres, têm muitas dificuldades, no entanto são um povo feliz, aliás muito mais sorridentes e de bem com a vida do que os turistas abastados que os visitam. O custo de vida é mais baixo que em Portugal mas não é proporcional aos baixos ordenados que têm, estamos a falar que o ordenado mínimo é de 13000 escudos cabo verdianos (foi tão engraçado voltar ao escudo) o que não chega aos 120€, e mesmo as pessoas do resort com quem falámos nao recebiam mais de 300€.
Apesar da língua oficial ser o português todos eles falam é crioulo entre eles, e o português muitas vezes não é o mais correcto e mesmo eles admitem algumas falhas a falar português. Mais uma coisa que me surpreendeu foi a capacidade de comunicarem em diferentes línguas, como disse muitos dos turistas não são portugueses. Quando fui fazer mergulho um rapaz lá do centro vi-o a falar inglês, francês e alemão, afinal não são só os portugueses que têm jeito para as línguas. E por falar em centro de mergulho, não poderia ir a Cabo Verde e não mergulhar, num dos melhores sítios de mergulho do mundo. Ainda fiz 3 mergulhos dos melhores e mais fáceis que fiz. Visibilidade de 20 metros, dizem eles que com menos de 7 metros cancelam os mergulhos, temperatura de 23°C e dizem eles que a água estava fria, deviam vir cá mergulhar a Portugal. E a quantidade de vida animal que se vê, simplesmente maravilhoso. Um bocado a contrastar com a vida animal fora de água, a ilha tem lagartos, pássaros e pouco mais.
Comparo um bocado a ilha do Sal ao que era o Algarve há 30 anos atrás, um paraíso pronto a ser descoberto e explorado. Não é com espírito colonialista que digo isto, longe disso nem vivi nessa altura, mas é uma pena que Cabo Verde não tenha continuado a ser Portugal, seria mais barato viajar para lá, muito mais fácil, sem passaportes, sem câmbios, sentiriamos-nos ainda mais em casa do que já sentimos. E é um povo que merece ser ajudado, Portugal não é um país rico mas poderia fazer muito para melhorar as condições de vida dos cabo verdianos. Gostaria de voltar a viajar para o Sal, não sei o futuro, o que posso dizer é que adorei a ilha e o seu povo.
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