quarta-feira, outubro 05, 2016

Ironman Barcelona - os dias anteriores

O tão desejado e ao mesmo tempo receado desafio estava aí à porta, era hora de rumar a Barcelona para o meu primeiro Ironman. Sentia-me bastante tranquilo, nada ansioso, sabia que tinha feito tudo o que estava ao meu alcance para estar o melhor preparado possível, queria que chegasse o dia da prova para desfrutar dela, e acreditava que se não tivesse nenhum azar, melhor ou pior conseguiria cortar a meta.

A viagem acho que foi o primeiro desafio, quase 1300 kms, quando o máximo que tinha feito num dia nunca tinha ultrapassado os 500 kms. Saímos de Cascais por volta das 5h30m de 5ª feira, graças à simpatia da câmara de Cascais que nos emprestou uma carrinha conseguimos ir todos juntos, todos nós virgens no Ironman, eu mais os meus colegas de equipa Mário Santos, Ricardo Costa, Nelson Moreira e Gonçalo Sousa. Chegámos a Calella (localidade perto de Barcelona onde decorre o Ironman) já perto das 22h30m locais, todos amassados de uma viagem super desgastante, foi só tirar tudo da carrinha, comer algo rápido e ir descansar. Durante estas longas horas com se pode calcular todas as conversas giraram à volta da prova, expectativas, receios, objectivos, etc, e claramente eu e o Nelson éramos os mais calmos.


Na 6ª feira começámos logo o dia por ir fazer o registo na prova, recolher as nossas coisas e despachar a parte mais burocrática. A magnitude da prova é uma coisa absolutamente impressionante, nada perto do que já tenha vivenciado, parecia que estava num campeonato do mundo ou nos jogos olímpicos, estamos a falar de quase 3000 triatletas, famílias inteiras a vir ver a prova, tendas por todo o lado, equipamento e mais equipamento, atletas a correr e a pedalar por todo o lado, via-se e respirava-se triatlo em cada canto daquela cidade. Esta grandiosidade só era comparável aos preços absolutamente absurdos do merchandising da prova, devem pensar que todos os países se regem pelos padrões da Suiça, mas o que é mais incrível é que aquilo vendia como se fossem garrafas de água no meio do deserto, por isso percebo que os preços sejam aqueles.

A seguir a isso pegámos na carrinha e fomos percorrer o percurso de ciclismo, queríamos ir ver a única subida do percurso que iria ser feita duas vezes. A subida em si não me assustou, tinha cerca de 7kms mas com inclinações a rondar os 3%-4% em que as rampas mais agressivas não ultrapassariam os 8%, bom para as minhas características. O início do percurso é que não me agradou muito, pensava que o percurso era todo plano tirando aquela subida, mas a saída de Calella era algo acidentada, a estrada ondulava com diversas pequenas subidas.

Ao final da tarde fomos correr um pouco para soltar as pernas depois de tantas horas sentados na carrinha no dia anterior, escolhemos mais ou menos a hora em que calculámos que no dia da prova estaríamos a correr. O percurso era muito bom, sempre plano e mais importante que isso, bastante abrigado do sol em grande parte da sua extensão. Entretanto também chegou o Felício que foi ajudar na organização do evento, para aprender um pouco sobre a dinâmica do mesmo, visto que vai ser uma das pessoas responsáveis pelo Ironman 70.3 de Cascais no ano que vem. O coitado estava cheio de vontade de fazer a prova que até dava pena, notava-se que ele trocaria num piscar de olhos a posição dele com a nossa.


Para além do Felício também chegou o David Sanglas, o nosso veterano do Ironman que vinha participar no seu 6º Ironman. Nessa noite tivemos a "Pasta Party", um jantar oferecido pela organização para todos os triatletas e como o nome indica, à base de massa, venham os hidratos que bem seriam precisos para domingo. Durante o jantar massacramos o David com perguntas, especialmente no que tocava às transições, pois nesta prova as transições não funcionam como em provas de triatlo normal, e a nossa inexperiência traziam-nos algumas questões quanto ao detalhe como as transições se procederiam. Basicamente em vez de termos um cesto com o equipamento ao lado da bicicleta, nesta prova temos uma tenda com um cabideiro enorme, em que cada triatleta tem uma posição na qual coloca dois sacos, um com as coisas para a transição da natação para a bicicleta, e outro para a transição da bicicleta para a corrida.


No sábado de manhã decidimos dividir-nos, eu e o Mário queríamos ir experimentar uma parte do percurso de ciclismo a pedalar, e os restantes queriam ir fazer uma natação rápida para experimentar a água, seguido de um ciclismo rápido. Para mim quem está habituado a nadar nas águas portuguesas nada em quase todas as águas, e então no Mediterrâneo esperava um mar calmíssimo, com água muito mais quente e muito mais salgada, por isso abdiquei de experimentar o segmento de natação, decidi que experimentaria no aquecimento no dia da prova. Enquanto estávamos a experimentar o percurso de ciclismo fiquei um pouco mais tranquilo, aquele ondulado inicial que parecia chato quando fizemos de carro, a pedalar, e aproveitando algum balanço que se conseguia parecia relativamente tranquilo. A única preocupação foi o vento frontal que se apanhava no retorno, mas segundo as previsões o vento ia ser quase inexistente no dia seguinte e sendo assim, tanto eu como o Mário achámos que era possível fazer uma média de 30km/h no ciclismo, algo totalmente impensável para mim há uns meses atrás, quando pensei em fazer o Ironman o meu objectivo era fazer o segmento de ciclismo a uma média de 27km/h.

A seguir a um banho rápido fomos ouvir o briefing da prova, mais uma vez impressionante a quantidade de triatletas, a quantidade de pessoas que ia fazer pela primeira vez o Ironman, a quantidade de nações representadas, a diversidade de pessoas, o show à volta do briefing, o detalhe, absolutamente impressionante. Da parte da tarde fomos colocar as bicicletas no parque de transição, até dava vergonha a minha bicicleta ao pé daqueles maquinões todos, o que me dava alento era pensar que mais vergonhoso seria quando eu na minha "amostra de bicicleta" passasse por alguns daqueles maquinões durante a prova. Além da bicicleta também fomos colocar os sacos no cabideiro para as transições. Nessa altura é que me apercebi da verdadeira confusão, era ainda pior do que pensava, os sacos ficam totalmente atafulhados uns com os outros, todos iguais, só identificáveis pelo nosso número, a distância entre os cabides não era superior a 2cm, se alguém mexesse no nosso saco e o trocasse de sítio nunca mais o encontrávamos. Apesar de inexperiente não sou parvo nenhum, então fiz um pequeno laço nas cordas dos meus sacos, coisa que ninguém tinha feito, pelo menos ali nas minhas redondezas, desta forma conseguia identificar rapidamente os meus sacos, nem que estivesse a 3 metros de distância deles.


Era agora hora de descansar, dormir, o dia seguinte era o grande dia...


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